sexta-feira, 28 de novembro de 2008
Dissabor
quinta-feira, 6 de novembro de 2008
O melhor lugar é onde estamos nós
Eu ficava
Mas vê como tudo lá fora mudou
O tempo passou
Feito um louco
Quebrando as vidraças
E a gente ficou
Aqui, sem ter nem pra onde ir,
Por medo ou preguiça
Aqui, ilhados por nós
Sequer rastreados por nenhum radar
Aqui parecia ser o melhor lugar
Quem disse que a gente precisa
Perder um ao outro pra se encontrar
Se nada nos prende ao passado
Não é o futuro que vai separar
Enfim
Encosta teu barco em mim
Que o sol já se pôs
A sós
O mundo termina
Na fina fronteira dos nossos lençóis
Em nós
Espalham-se os laços
Desfazem-se os nós
Sonhamos paisagens, compramos passagem
E nunca voamos pra lá
Enfim
Passeia tua boca em mim
Até me calar
Aqui ainda parece o melhor lugar
(Melhor Lugar - Jorge Vercilo)
sexta-feira, 24 de outubro de 2008
Instantes
Surpreendo-me por surpreender-me com coisas tão banais. Ontem, depois da chuva, formou-se um tapete de flores amarelas sobre o chão. Parecia um manto dourado, um caminho pra uma paisagem iluminada. Entrei no carro e fui embora. Trânsito, chuva, medo, finalmente em casa. Por isso é preciso parar, um minuto que seja, e contemplar essas brechas de harmonia, momentos de poesia cotidiana. E, se possível , regar a alma e trazê-las pra dentro de nós. Isso daria um haicai, se eu tivesse aprendido a fazer economia.
*
Hoje de manhã, me lembrei de como tudo começou. E sempre que me lembro busco um outro ângulo, porque aconteceu de várias formas diferentes. Enquanto eu olhava pra frente, preocupada com o estreitamento da via, ou com aquela situação de estar tão próxima de um quase desconhecido, você beijou o meu rosto. Assim, sem que fosse um cumprimento, uma despedida ... apenas encostou seus lábios e beijou. Quando eu virei, sem saber o que dizer, timidamente tentando sorrir, você disse: "Obrigado!". Eu ainda quis saber por quê. "Por você estar aqui. É bom conhecer as pessoas". Eu ainda demorei a entender. Ainda bem que os seus sentidos foram mais longe. É bom conhecer pessoas. É bom o amor acontecer.
sexta-feira, 17 de outubro de 2008
Filosofia leguminosa
quinta-feira, 9 de outubro de 2008
Mais um dia frio
segunda-feira, 6 de outubro de 2008
Plena e simplesmente
Sou sua luz
Sou sua cruz
Sou sua flor
Sou sua jura
Sou sua cura
Pro mal do amor
Sou sua meia
Sou sua sereia
Cheia de sol
Sou sua lua
Sua carne crua
Sobre o lençol
Sou sua Amélia
Sou sua Ofélia
Sou sua foz
Sou sua fonte
Sou sua ponte
pro além de nós
Sou sua chita
Sua criptonita
Sou sua Lois
Sou sua jóia
Sou sua nóia
Sua outra voz
Sou sua
Sou sua
Sou sua
Plenamente
Simplesmente
(Sou sua - Adriana Calcanhoto)
sexta-feira, 3 de outubro de 2008
Trilha para uma manhã quase ensolarada
Que tarde, tristeza
Você veio hoje me ver
Já estava ficando
Até meio triste
De estar tanto tempo
Longe de você
Se chegue, tristeza
Se sente comigo
Aqui, nesta mesa de bar
Beba do meu copo
Me dê o seu ombro
Que é para eu chorar
Chorar de tristeza
Tristeza de amar
(Bom dia, tristeza - Vinícius e Adoniran)
segunda-feira, 29 de setembro de 2008
Machado de Assis em poucas palavras
Pra não deixar o samba morrer
Samba
Velho amigo e companheiro
Alegria dos nossos terreiros
Há muitos anos atrás
É este o mesmo samba verdadeiro
Que partiu para o estrangeiro
E penetrou nas camadas sociais
Samba do Estácio e Ismael
De Cartola e Mestre Paulo
Bide, Mano Rubem e Noel
Estácio, Mangueira e Portela
Tijuca, Favela
Os professores do morro
Nos mesmos ideais
Fizeram a grande alegria
Dos carnavais
Foi aí que o samba evoluiu
Como representante maior
Da cultura do Brasil
(Samba, Velho Amigo - Monarco)
Florescer
quarta-feira, 17 de setembro de 2008
Partida
Quando outro dia amanhecer
Será recomeçar
Será ser livre sem querer
O que será ser moça
E ter vergonha de viver
Ter corpo pra dançar
E não ter onde me esconder
Tentar cobrir meus olhos
Pra minh'alma ninguém ver
Eu toda a minha vida
Soube só lhe pertencer
O que será ser sua sem você
Como será ser nua em noite de luar
Ser aluada, louca
Até você voltar
Pra quê
O que será ser só
Quando outro dia amanhecer
Será recomeçar
Será ser livre sem querer
Quem vai secar meu pranto
Eu gosto tanto de você
(Abandono - Edu e Chico)
sexta-feira, 5 de setembro de 2008
Chegou!
E diz a ela que sem ela não pode ser
Diz-lhe numa prece
Que ela regresse
Porque não posso mais sofrer
Chega de saudade
A realidade é que sem ela
Não há paz
Não há beleza
É só tristeza e a melancolia
Que não sai de mim
Não sai de mim
Não sai
Mas, se ela voltar
Se ela voltar que coisa linda!
Que coisa louca!
Pois há menos peixinhos a nadar no mar
Do que os beijinhos
Que eu darei na sua boca
Dentro dos meus braços, os abraços
Hão de ser milhões de abraços
Apertado assim, colado assim, calada assim,
Abraços e beijinhos e carinhos sem ter fim
Que é pra acabar com esse negócio
De viver longe de mim
Não quero mais esse negócio
De você viver assim
Vamos deixar esse negócio
De você viver sem mim...
Tom Jobim - Chega de Saudade
quarta-feira, 3 de setembro de 2008
Pega aí!
Havia um muro alto entre nossas casas.
Difícil de mandar recado para ela.
Não havia e-mail.
O pai era uma onça.
A gente amarrava o bilhete numa pedra presa porum cordão
E pinchava a pedra no quintal da casa dela.
Se a namorada respondesse pela mesma pedra
Era uma glória!
Mas por vezes o bilhete enganchava nos galhos da goiabeira
E então era agonia.
No tempo do onça era assim.
(Manoel de Barros - A namorada)
Um dia comum
domingo, 24 de agosto de 2008
De toda cor
quarta-feira, 20 de agosto de 2008
Carta Aberta
E assim, justifico minha decisão de postar parte de uma reposta a uma carta de amor; afinal, o amor será sempre o melhor que teremos a compartilhar.
Meu amor, sua carta me trouxe belas palavras, muitas aflições, algumas preocupações. Você falou sobre a sua confiança no nosso encontro e no que você espera poder representar pra mim. Preocupação acertadíssima, mas desnecessária. Você já representa muita coisa. Representa a possibilidade de realização dos meus sonhos mais sinceros, dos meus desejos mais secretos. Sinteticamente, posso dizer, a oportunidade de cuidar do essencial. E o que é essencial? Aprender e ensinar. "Aprender, servir e ajudar", você disse. Viu como pensamos parecido? Você falou tanto na sua vontade de corrigir suas imperfeições. Sabe, desde que tenho você comigo, também lido bem mais de frente com as minhas imperfeições. Não só porque a sinceridade é sua pior qualidade e seu melhor defeito, mas porque o amor nos põe à prova o tempo todo, revelando-nos o nosso egoísmo, os nossos medos, as nossas carências, as nossas necessidades nem sempre saudáveis. Não seria exagero dizer que o amor desvela o que há de melhor e pior em nós. Estamos bem longe de amar platonicamente, amar desprendidamente, desejando essencialmente o bem do outro. Amamos e queremos o nosso próprio bem, o bem que o outro nos provoca. Por isso, o melhor que você poderia significar pra mim é a certeza de que quero, sim, fazer esse exercício de amar verdadeiramente, e não egoisticamente. Você me ensina muito e sempre. Por exemplo, já aprendi que acordar do teu lado me faz ter mais confiança de que é possível melhorar muita coisa nesse mundo maluco. Você me ensina a dirimir meus preconceitos bobos, das formas mais improváveis. Quando declama os poetas que eu amo e não rejeita os livros que eu desprezo. Quando pega Pasolini e algo como "Duro de Matar" na locadora e me pergunta o que vamos ver primeiro. Quando me faz ouvir e gostar, na mesma semana, de Uakiti e Amy Winehouse (só com muito amor mesmo! rs). Quando me faz ter vontade (bem incipiente, mas ...) de voltar a estudar inglês, enfim ... E por que mais eu quero tanto aprender a "amar certinho"? Porque você olha para todas as crianças, como se cada uma fosse a mais especial. Porque você ama com o coração transbordando. Porque você não dá sobras; você se dá inteiro. Porque você não tem medo de amar. Porque você tem medo de viver sem amor. Porque você me faz querer ser a melhor mãe do mundo. Porque você ri quando eu quero chorar e chora quando eu quero rir (isso não é perfeito?). Porque você não permite que eu fique emburrada por mais de 24 horas (precisamos negociar esse tempo). Porque a sua sensibilidade não me alcança quando eu acho que preciso, mas me enxerga no escuro, quando eu menos espero. Porque você não sabe tudo sobre mim e isso me faz continuar a ser eu. Porque você quer saber mais sobre mim e isso vai fazer com que sejamos cada vez mais "nós". Porque você me ensina o que eu teimo em não querer aprender. E, claro, porque você me lembra que existem verbos que ninguém mais usa e me ensina alguns bons trajetos, o que faz com que eu me perca bem menos na Zona Oeste. rs. Viu, só? Eu bem que tento, mas meu amor continua sendo fundamentado num egoísmo abismal! Eu te amo por esse bem enorme que você me faz. Mas também porque eu acredito na sua proposta de evolução. Afinal, deve ser verdade o que dizem os livros de auto-ajuda: "Casais inteligentes enriquecem juntos". E sei que o nosso enriquecimento não tem a ver com contas polpudas, carro importado, viagens exuberantes. O que há de mais exuberante já temos. E eu te amo porque você me trouxe de volta uma esperança que eu havia perdido: a de que é possível viver e buscar o bem comum. Não importa o que faremos de efetivo, ou se o que faremos será efetivo (reciclaremos nosso lixo? economizaremos água? plantaremos algumas mudas? ensinaremos nossos filhos a respeitarem o planeta e o semelhante incondicionalmente? cuidaremos e ensinaremos crianças que não gerarmos?). Sinto que qualquer coisa que eu fizer contigo será capaz de germinar. E essa é a melhor resposta que consigo te dar nesse momento: a minha confiança. Meu amor, eu quero a sua ajuda. Para aprender sempre mais, para amar de um jeito cada vez mais verdadeiro e, principalmente, para que, juntos, possamos fazer valer a nossa existência.
sábado, 16 de agosto de 2008
Amar em paz
Então fui eu quem consolou sua tristeza
Na certeza de que o amor tem dessas fases más
E é bom para fazer as pazes, mas
Depois fui eu quem dela precisou
E ela então me socorreu
E o nosso amor mostrou que veio prá ficar
Mais uma vez por toda a vida
Bom é mesmo amar em paz
Brigas nunca mais
(João Gilberto - Brigas Nunca Mais)
sábado, 9 de agosto de 2008
Ele
No meu corpo se escondeu, minhas matas percorreu
Os meus rios, os meus braços
Ele é o meu guerreiro nos colchões de terra
Nas bandeiras, bons lençóis
Nas trincheiras, quantos ais, ai
Cala a boca - olha o fogo!
Cala a boca - olha a relva!
Cala a boca, Bárbara
Cala a boca, Bárbara
Cala a boca, Bárbara
Cala a boca, Bárbara
Ele sabe dos segredos que ninguém ensina
Onde guardo o meu prazer, em que pântanos beber
As vazantes, as correntes
Nos colchões de ferro ele é o meu parceiro
Nas campanhas, nos currais
Nas entranhas, quantos ais, ai
Cala a boca - olha a noite!
Cala a boca - olha o frio!
Cala a boca, Bárbara
Cala a boca, Bárbara
Cala a boca, Bárbara
Cala a boca, Bárbara
Cala a boca, Bárbara
Cala a boca, Bárbara
Cala a boca, Bárbara
(Chico Buarque / Rui Guerra)
sexta-feira, 8 de agosto de 2008
Cheiro de flor
quinta-feira, 31 de julho de 2008
Fim de mês
Quando será que eu vou encontrar
Paz pro meu coração
Se eu não enlouquecer de amor, eu vou ver minha vida acabar
E pensar em você é alívio
Arrasa solidão
E logo torna-se um precipício, pesadelo que vaga pelo ar
As coisas que eu penso e que ninguém quer entender
As coisas que eu faço e que ninguém deseja ver
É por essas e por outras que eu preciso de você
Só você sabe como e por quê
Queria chegar e te abraçar
E pelo coração te amarrar
Em vez de te ligar, eu iria te beijar e todos os meus sonhos
iriam acordar
(Agosto - Simoninha)
Por que não é?
uma saudade tão má
de uma pessoa tão boa
falar, gritar, reclamar
se a nossa voz não ecoa
dizer não vou mais voltar
sumir pelo mundo afora
alguém com tudo pra dar
tirar o seu corpo fora
devia ser proibido
estar do lado de cá
enquanto a lembrança voa
reviver, ter que lembrar
e calar por mais que doa
chorar, não mais respirar (ar)
dizer adeus, ir embora
você partir e ficar
pra outra vida, outra hora
devia ser proibido...
(Devia ser proibido - Alice Ruiz)
quinta-feira, 24 de julho de 2008
Certinho, feinho, amor ...
Amor à primeira vista
Amor de primeira mão
É ele que chega cantando, sorrindo
Pedindo entrada no coração
O nosso amor já tem patente
Tem marca registrada, é amor que a gente sente
Eu gravo até em disco todo esse meu carinho
Todo mundo vai saber o que é amar certinho
Esse tal de amor não foi inventado
Foi negócio bem bolado direitinho pra nós dois, foi ou não foi?
Esse tal de amor não foi inventado
Foi negócio bem bolado direitinho pra nós dois
(Amor Certinho - Roberto Guimarães, por João Gilberto)
Urgência
quarta-feira, 23 de julho de 2008
Bate-papo comigo
domingo, 20 de julho de 2008
Presença
as sandálias sonham
com a seda dos teus pés…
Partiste..
Mas a alegria ainda ficou no quarto,
talvez no ninho morno, calcado por teu corpo
no leito desfeito…
Entardece…
Esfuziante e verde,
um beija-flor entrou pela janela,
(pensei que a tua boca ainda estivesse aqui…)
Do frasco aberto,
vestidas de vespas,
voam violetas…
E na almofada de seda,
beijo as sandálias brancas.
vazias dos teus pés.
AUSÊNCIA - João Guimarães Rosa
segunda-feira, 14 de julho de 2008
Reminiscências de um sonho (acordada)
A mente quieta, a espinha ereta e o coração tranqüilo
Respira, tu que estás numa cela
abafada,
esse ar que entra por ela.
Por isso é que os poemas têm ritmo
- para que possas, profundamente respirar.
Quem faz um poema salva um afogado.
(M. Quintana - Emergência)
sexta-feira, 11 de julho de 2008
SIM!
Diga sim pra mim - Isabella Tavianni
Eu pensei em comprar algumas flores
Só pra chamar mais atenção
Eu sei, já não há mais razão pra solidão
Meu bem, eu tô pedindo a sua mão
Então case-se comigo numa noite de luar
Ou na manhã de um domingo à beira mar
Diga sim pra mim
Case-se comigo na igreja e no papel
Vestido branco com bouquet e lua de mel
Diga sim pra mim
Eu pensei em escrever alguns poemas
Só pra tocar seu coração
Eu sei, uma pitada de romance é bom
Meu bem, eu tô pedindo a sua mão
Então case-se comigo numa noite de luar
Ou na manhã de um domingo à beira mar
Diga sim pra mim
Case-se comigo na igreja e no papel
Vestido branco com bouquet e lua de mel
Diga sim pra mim
Prometo sempre ser o seu abrigo
Na dor, o sofrimento é dividido
Lhe juro ser fiel ao nosso encontro
Na alegria, felicidade vem em dobro
Eu comprei uma casinha tão modesta
Eu sei, você não liga pra essas coisas
Te darei toda a riqueza de uma vida
O meu amor
quarta-feira, 9 de julho de 2008
Por favor
Não pergunte
Não estranhe
Não se acanhe
Apenas pegue a minha mão
Aperte o meu coração
Reconforte-o
Não questione como, nem por quê
Coloque-me no colo e me abrace
Olhe nos meus olhos e diga:
Não tenha medo.
Eu estou aqui!
terça-feira, 8 de julho de 2008
Eu te quero até o fim!
Começo com essa música linda, na voz da Elis.
Para T.C.P.S. (você, que cultiva rosas e amor como ninguém ...)
Amor, não tem que se acabar
Eu quero e sei que vou ficar
Até o fim eu vou te amar
Até que a vida em mim resolva se apagar
Amor é como a rosa num jardim
A gente cuida, a gente olha
A gente deixa o sol bater pra crescer, pra crescer
A rosa do amor tem sempre que crescer
A rosa do amor não vai despetalar
Pra quem cuida bem da rosa
Pra quem sabe cultivar
Amor não tem que se acabar
Até o fim da minha vida eu vou te amar
Eu sei que o amor não tem, não tem que se apagar
(Amor até o fim - Gilberto Gil)
sexta-feira, 27 de junho de 2008
Para o Vlad
Aproveite a estada em Fortaleza e dê um abraço apertado no seu pai, por mim. Por alguma razão desconhecida, já me considero amiga dele.
quarta-feira, 18 de junho de 2008
Notícias
Amando-se aos 80 anos
Um com ciúmes, o outro provocando
Um reclamando de tudo, o outro consentindo sempre
Tenho saudades de vocês dois
Da preocupação que vocês me causavam
Da graça que sempre inspiravam
Do medo que tinham de ser um, e não dois
Tenho saudades enormes de vocês dois
De tudo que me ensinaram, de todo o amor que me deram,
de tudo o que vocês foram juntos
Tenho saudades e queria muito contar pra vocês
Apesar dessa falta, desse nó na garganta
Hoje eu estou bem feliz
Sem lugar
Se você ficar, eu fico
Se você for, eu fico também
Mas se ficar, eu já estou
Estou, você indo ou ficando
com você, em qualquer lugar
E fico, em qualquer situação,
sem outra opção
Eu só posso te amar
Porque aqui ou acolá
Você já está
Em mim, inescapavelmente
quarta-feira, 4 de junho de 2008
Rima perfeita
rima sem expressão
Não é porque calhou a terminação,
que essa rima tenha razão
Prefiro rimar or com er
or com ar
ou ainda, or com ir
Mas se, por acaso, eu tiver que juntar
amar e chorar
Será nos teus braços
e não será por doer
Você que me faz entender
que amar não implica sofrer
Você que me faz perceber
que rimar amor e dor
é falsa construção,
forjada armação
Amor nunca rima com dor,
nem querer com sofrer
Amor só rima com amor
E você rima comigo
em qualquer verso
em qualquer estrofe
em todas as métricas ... milimetricamente!
Tradução
Dia desses vi o amor.
De unhas vermelhas e blusa ao contrário.
De casaco tirado do armário. Sentou na minha frente.
Não pude ignorar...
Só queria um olhar
do comprimento do meu
da distância do teu
A medida exata
para não cansar
Queria teu braço
A me apertar
A me levar
Por esse chão encerado
de roseiras ao lado
Esse tempo de espera
Era exatamente seu
Esse tempo sou eu
E te dei essa espera
Com sorriso escavado
Te dei esse tempo
Sem estar ao teu lado
Fica!
Agora a espera é passado
É meu esse chão encerado
Fica! De-mora ao meu lado
(Dia desses ... Iara Ga Iañez)
quinta-feira, 29 de maio de 2008
Dom de amor
Você tem o dom
de pôr som de celo
onde havia gelo
quem dera tê-lo
você e teu dom
de transformar esse silêncio
num solo de celo
quem dera descobrir
teus zelos véu por véu
descobrir talvez um novo céu
e nele vê-lo
entre as estrelas
cobrir você
com meus cabelos
quem dera este celo
não fosse tão solo
quem dera você para sê-lo
(Som de Celo - Alice Ruiz)
Nosso tempo é bom
Desses homens que te tratam
Como um vento que passou
Caia na realidade, fada
Olha bem na minha cara
Me confessa que gostou
Do meu papo bom
Do meu jeito são
Do meu sarro, do meu som
Dos meus toques pra você mudar
Mulher sem razão
Ouve o teu homem
Ouve o teu coração
No final da tarde
Ouve aquela canção
Que não toca no rádio
Pára de fingir que não repara
Nas verdades que eu te falo
Dá um pouco de atenção
Parta, pegue um avião, reparta
Sonhar só não tá com nada
É uma festa na prisão
Nosso tempo é bom
Temos de montão
Deixa eu te levar então
Pra onde eu sei que a gente vai brilhar
Mulher sem razão
Ouve o teu homem
Ouve o teu coração
Batendo travado
Por ninguém e por nada
Na escuridão do quarto
Na escuridão do quarto
(Mulher sem razão - Adriana Calcanhoto)
quarta-feira, 14 de maio de 2008
Inexplicando
Como é que eu vou dizer?
Como é que eu vou entender?
Como é que eu vou verter?
Se as maneiras me evitam
As palavras não imitam
As idéias não indicam
A música que assovia o coração
O coração?
Esse só responde com brilho
Desde que você chegou é assim:
Melodia escorrendo dos olhos
Alegria enfeitando o meu colo
Sintonia do começo ao fim
Por que é que eu gosto de você?
São cem razões e sem senões
Duzentas vezes o que eu não sei dizer
E uma só vez o que eu não canso de sentir
segunda-feira, 12 de maio de 2008
Cada vez más de cerca ...
"Toco tu boca, con un dedo toco el borde de tu boca, voy dibujándola como si saliera de mi mano, como si por primera vez tu boca se entreabriera, y me basta cerrar los ojos para deshacerlo todo y recomenzar, hago nacer cada vez la boca que deseo, la boca que mi mano elige y te dibuja en la cara, una boca elegida entre todas con soberana libertad elegida por mí para dibujarla con mi mano en tu cara, y que por un azar que no busco comprender coincide exactamente con tu boca que sonríe por debajo de la que mi mano te dibuja.
Me miras, de cerca me miras, cada vez más de cerca y entonces jugamos al cíclope, nos miramos cada vez más de cerca y los ojos se agrandan, se acercan entre sí, se superponen y los cíclopes se miran, respirando confundidos, las bocas se encuentran y luchan tibiamente, mordiéndose con los labios, apoyando apenas la lengua en los dientes, jugando en sus recintos donde un aire pesado va y viene con un perfume viejo y un silencio. Entonces mis manos buscan hundirse en tu pelo, acariciar lentamente la profundidad de tu pelo mientras nos besamos como si tuviéramos la boca llena de flores o de peces, de movimientos vivos, de fragancia oscura. Y si nos mordemos el dolor es dulce, y si nos ahogamos en un breve y terrible absorber simultáneo del aliento, esa instantánea muerte es bella. Y hay una sola saliva y un solo sabor a fruta madura, y yo te siento temblar contra mí como una luna en el agua."
(Julio Cortázar, Rayuela - Cap.7)
terça-feira, 6 de maio de 2008
Um lugar pra ficar
segunda-feira, 5 de maio de 2008
Nosso
Para T.C.P.S.
Seu
Arrebate meu coração
Leve-o pra onde quiser
Arremate-o!
Esconda o meu olhar entre os seu pêlos
Minha boca entre os seus anseios
E as minhas mãos ... não precisa, entranhadas estão
Respire meu pensamento
Sorva cada gota da minha sede
Tateie o meu calor
Amplifique a minha voz
Modifique a minha dor
Retire, eleve, transforme
Tudo que ainda restar
Tudo que ainda quiser
Tudo de que, sem escolha, eu dispuser
Não quero nada em troca
Não é uma troca; não tenho escolha
Só não quero me esquecer do seu gosto
Me esquivar do seu cheiro
Nem perder os sentidos
Só não quero ter que lembrar
E não quero, de jeito nenhum,
Que me entregue de volta
É tudo seu
E, só assim, pode continuar a ser meu
sexta-feira, 18 de abril de 2008
Porque escrever é assim ...
Não pode usar qualquer palavra
Então é por isso que não dava
Eu tentava, repetia, achava lindo e colocava
Se não cabe, se não pode
Tem que trocar de palavra
Ah!
Mas é tão boa essa palavra!
Carregada de sentido com um som tão delicado
Agora eu vou ter que trocar?
Ah!
Vá se danar!
Ah! Tem que caber?
Ah! Ninguém repara
Ah! Tem que entender?
Ah! Mas tá na cara
Então muda?!?
Han... han...
Hum
Chiiii
Ai ai ai ai ai ai ai
Han?
Haa tá
Nossa! É isso?!
Hei! Hou!
Ara!
Ah!
(Luiz Tatit)
Procura-se!
Onde é que há gente no mundo?
(Poema em linha reta - Álvaro de Campos)
Professorando
(Paulo Freire)
domingo, 6 de abril de 2008
Doce melodia
Os pés descalços
E um sorriso de lado
Eu vou, se você quiser
Faz tempo que o meu laço de fita se soltou dos cabelos
Viajou pelo ar, ensaiando uma dança
Esperando você chegar perto
Pra poder te abraçar, se enroscar devagar
E se essa coreografia
Te trouxer pra junto de mim
Nossa música vai começar
Com a mão enlaçada na tua e um gesto de corpo
Eu te chamo pra ir ver o mar
E se tiver lua cheia e a maré serenar
No meio da noite, sob um céu estrelado
Eu vou sentir, de novo, o teu ritmo
Pulsando sobre a minha melodia
Um sonho
Mas só se fosse um sonho bom
Eu queria acordar e sonhar
Mas só se fosse um sonho de amor
Mais um adeus ...
Gatinho Cetim
O cachorro voltando da carrocinha, na sacola de feira
Honestidade
Trabalho
Punhados de balas
Balanço no quintal
Parque Nabuco
Zoológico
Visita aos tios mais velhos do interior
Comedimento
Honra
Rigidez
Disciplina
Roupa cheia de tinta de parede
Bigode
Ovo de páscoa escondido no Domingo
Natal mais feliz da infância
Fusca caramelo
Dança no quintal
Pinguinha pra abrir o apetite
Bronca
Zanga
Nelson Gonçalves
Altemar Dutra
Kojak
Filmes de Bang Bang
Histórias da roça
Aulas de direção
Resgate dos castigos dos pais
Proteção
Família
Amor
Sentido
É tudo isso e mais um monte de coisas inexprimíveis que me fazem guardar pra sempre a lembrança do melhor avô do mundo. Foi você quem, sem ter acesso ao mundo dos livros, um dia, sem saber, me abriu o mundo da poesia, me colocando no colo e cantando assim:
Eu tenho um gatinho
Chamado Cetim
Alegre e mansinho
Que gosta de mim
Bem cedo na cama, vem ele, "miau"
Tanto me chama, que até fica mal
Cetim me obedece
De bom coração
Eu fico com medo
E não tenho razão
Obrigada!
segunda-feira, 10 de março de 2008
Ainda
Você pra mim
Vontade?
Teimosia?
Burrice?
Melhor não tentar explicar
Melhor tentar fugir
Melhor que tentar, conseguir.
quinta-feira, 6 de março de 2008
Quem nunca viu, vai ver!
C´est fini
segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008
Dica
Receita para comer o homem amado
sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008
Um ano
quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008
segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008
Louco é quem não diz
A loucura anda por aí; sempre à espreita, sempre com fome
Anda seus passos surdos, discreta, matreira
Daqueles que já sucumbiram ela faz o que bem quer
Qual dona-de-casa mandona, impõe a ordem dos móveis e a cor das paredes
E assim, desafiante, dominadora, desfila suas formas sinuosas
Há os que seguem aos berros, sujos e despidos
vociferando impropérios, rindo do mundo limpo e são
Há os que repetem as vozes de todos os demônios
que a dona da casa convidou pra almoçar
E há ainda os que babam, urinam, defecam,
peidam e escarram, sem se esconder, sem se importar
Aliás, a loucura não quer saber se haverá quem os limpe,
quem os lave e lhes dê de comer
Ela só quer reinar soberana, exercer seu mandato
A ordem dessa senhora pode ter contornos menos brutos, mais elaborados: a angústia que arde, a crueldade que dorme, a depressão que derrota
Não se sabe ao certo se a loucura escolhe ou é escolhida
Apenas que se embrenha através dos excessos: os fracos demais, os indiferentes demais e os que pensam demais
Outra coisa da qual se tem certeza é que a loucura se alimenta dia a dia, nos comedouros imundos do mundo
Mundo que exalta os ricos, os bem-sucedidos, os impecáveis em trajes de festa
Mundo que rejeita a solidão e vende felicidade como um bem de consumo
Mundo que despreza os poetas, os desregrados e os justos
O mundo engorda a loucura
E ela está cada dia mais forte, valente, potente
Exatamente como o mundo quer
E sempre com fome, sempre à espreita
Somos todos terrenos férteis, produtivos
protegidos por cercas sem eletrificação e cães desdentados
Onde será o próximo acampamento?
sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008
Cor de rosa
esse baixo astral
em que tudo entra pelo cano
eu quero viver de verdade
eu fico com o cinema americano
(Paulo Leminski)
terça-feira, 12 de fevereiro de 2008
E então?
sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008
Quanto riso, óh, quanta alegria ...
Kalter Wind
quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008
Pescando o amor
Meu marido, se quiser pescar, pesque,
mas que limpe os peixes.
Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,
ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.
É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,
de vez em quando os cotovelos se esbarram,
ele fala coisas como "este foi difícil"
"prateou no ar dando rabanadas"
e faz o gesto com a mão.
O silêncio de quando nos vimos a primeira vez
atravessa a cozinha como um rio profundo.
Por fim, os peixes na travessa,
vamos dormir.
Coisas prateadas espocam:
somos noivo e noiva.
Casamento - Adélia Prado
quinta-feira, 31 de janeiro de 2008
Basta sonhar com você
terça-feira, 22 de janeiro de 2008
Modinha para Gabriela
Eu não atinava em nada
Hoje eu sou Gabriela
Gabriela, ê, meus camaradas
Eu nasci assim, eu cresci assim e sou mesmo assim
Vou ser sempre assim
Gabriela ... sempre Gabriela
Quem me batizou, quem me nomeou
Pouco me importou, é assim que eu sou
Gabriela ... sempre Gabriela
Eu sou sempre igual, não desejo o mal
Amo o natural, etc e tal
Gabriela ... sempre Gabriela
(Dorival Caymmi)
quinta-feira, 17 de janeiro de 2008
Amor perfeito
sexta-feira, 11 de janeiro de 2008
Vida, Chico, Vida
Olha o que é que eu fiz
Deixei a fatia
Mais doce da vida
Na mesa dos homens
De vida vazia
Mas, vida, ali
Quem sabe, eu fui feliz
Vida, minha vida
Olha o que é que eu fiz
Verti minha vida
Nos cantos, na pia
Na casa dos homens
De vida vadia
Mas, vida, ali
Quem sabe, eu fui feliz
Luz, quero luz,
Sei que além das cortinas
São palcos azuis
E infinitas cortinas
Com palcos atrás
Arranca, vida
Estufa, veia
E pulsa, pulsa, pulsa,
Pulsa, pulsa mais
Mais, quero mais
Nem que todos os barcos
Recolham ao cais
Que os faróis da costeira
Me lancem sinais
Arranca, vida
Estufa, vela
Me leva, leva longe
Longe, leva mais
Vida, minha vida
Olha o que é que eu fiz
Toquei na ferida
Nos nervos, nos fios
Nos olhos dos homens
De olhos sombrios
Mas, vida, ali
Eu sei que fui feliz
Vida - Chico Buarque
quarta-feira, 9 de janeiro de 2008
Creer
Românticos são loucos desvairados
Que querem ser o outro
Que pensam que o outro é o paraíso
Românticos são lindos
Românticos são limpos e pirados
Que choram com baladas
Que amam sem vergonha e sem juízo
São tipos populares que vivem pelos bares
E mesmo certos vão pedir perdão
E passam a noite em claro
Conhecem o gosto raro
De amar sem medo de outra desilusão
Romântico é uma espécie em extinção
(Românticos - Vander Lee)
Essa música me lembra uma outra espécie em extinção - o lobo guará.