Ando sem paciência pra escrever. Ou sem coragem. Na verdade, sem paciência pra pensar, pra organizar idéias. Ou será que ando preguiçosa pra sentir? Às vezes, sinto apatia e me deixo perder nesse limbo do não estar. Ando sem paciência pras pessoas também. Ou para as suas praticidades e aborrecimentos cotidianos. Não tenho me interessado pelo escândalo do cartão corporativo nem pelas eleições americanas. O verão, minha estação preferida, tem passado sem me entusiasmar. Ao redor, tudo tem a mesma cor, o mesmo cheiro, uma luz incessante. Não consigo me sentir parte de nada, compartilhando o que quer que seja. Nem medo de estar sendo um ser humano horroroso eu consigo ter, apesar da desconfiança. Parece que estou em férias de mim mesma, esperando alguma coisa religar. E me sinto fraquejar numa tentativa frouxa, mais que tímida, de me religar ao mundo. Acho até que faz sentido esse esquecimento existencial. Afinal, pausa para uma vida nova. Mudanças ansiadas, acertadas, contagem regressiva. Acho que a ansiedade chegou num ponto de saturação e se transformou em morosidade psíquica, ou, trocando em miúdos, tico e teco estão exaustos. Não só tico e teco. Estou toda exaustão, que não é cansaço físico: é fadiga de ser, de querer, de não ter. Talvez ilustre essa mornidão, o meu melhor momento dos últimos meses: o anestesista me pedindo pra respirar fundo, avisando que eu ia começar a sentir muito sono, a voz dele ficando cada vez mais longe, um torpor delicioso, total ... Mas sei que isso tudo vai passar, como já passou tantas outras vezes. Sei que essa é uma crise pontual e que esse vazio não é consistente o suficiente pra me entorpecer de verdade. Sempre haverá um samba pra estufar o meu peito de ar, uma letra antiga pra eu cantar até perder o fôlego. Isso sem falar nas amigas queridas e no rostinho cada vez mais lindo da Gabi.
terça-feira, 12 de fevereiro de 2008
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Um comentário:
É só uma mistura de sentimentos ou não sentimentos que irá passar!
Beijo enorme
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