segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Pra não deixar o samba morrer

Deixei passar vários assuntos que me sacudiram o espírito nas últimas semanas, como o impacto de ter assistido ao "O Ensaio sobre a Cegueira", a decepção com "Devoção" e a beleza do "Revelando São Paulo". Mas não dá pra deixar a falta de inspiração e a preguiça dominarem tanto, ao ponto de me calar diante da maravilha que é O Mistério do Samba . O documentário de Lula Buarque de Holanda, conduzido por Marisa Monte, passeia pelo bairro carioca de Osvaldo Cruz, berço da Portela, e nos leva sentidos adentro por uma viagem musical que se descobre ali, na hora exata em que a Velha Guarda da Escola abre suas portas de casas simples e suas caixas esquecidas com muitos sambas inéditos. Casquinha, Argemiro, Dona Surica, Áurea, Zeca Pagodinho e Monarco são apenas alguns dos personagens que nos emocionam. A rabugice de Dona Eunice, que diz que "esse negócio de amor vira a cabeça das pessoas" chega a ser engraçada. Argemiro canta um samba triste, triste, e alguém comenta que a história da música é de chorar. A resposta é evidente: "sem tristeza não se faz samba bonito". A voz de Marisa Monte aparece em algumas rodas de samba, acompanhada pelas pastoras da Portela, ou pelo violão de Paulinho da Viola. Que voz! Divina e graciosa! O Mistério do Samba nos dá vontade de passear pelo Rio que não é o Leblon. E de sair cantarolando as canções desses homens simples, operários da vida e do samba!



Samba
Velho amigo e companheiro
Alegria dos nossos terreiros
Há muitos anos atrás
É este o mesmo samba verdadeiro
Que partiu para o estrangeiro
E penetrou nas camadas sociais
Samba do Estácio e Ismael
De Cartola e Mestre Paulo
Bide, Mano Rubem e Noel
Estácio, Mangueira e Portela
Tijuca, Favela
Os professores do morro
Nos mesmos ideais
Fizeram a grande alegria
Dos carnavais
Foi aí que o samba evoluiu
Como representante maior
Da cultura do Brasil

(Samba, Velho Amigo - Monarco)

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