terça-feira, 2 de outubro de 2007

111 sem-família

Chegamos aos 15 anos do massacre no Carandiru. O que mais me espanta é que, diferentemente do que se passa com tragédias de grande porte, ninguém quer saber como estão as famílias das vítimas. Todo mundo se comove com os parentes não indenizados do desastre da Gol. O mesmo vai acontecer daqui a um ano, em relação ao acidente da TAM. As famílias daqueles que morreram no atentado ao World Trade Center, então, viraram quase tão mártires quanto os homens-bombas que toparam fazer o estrago, entre os seus. Óbvio, são mazelas de naturezas muitos distintas, de proporções diversas, mas ainda sim, eu estranho. Ninguém quer saber o que aconteceu com mães, esposas e filhos dos 111 (pra ficar no número oficial) sacrificados no Carandiru? Não interessa? A dor dessa gente toda foi (tem sido) menor? Ou o sofrimento de parente de gente inocente, que utiliza transporte aéreo, tem prevalência ao dos familiares de bandidos encarcerados? Por que ninguém entrevista a noiva do cara que tava terminando o cumprimento da pena, cheia de sonhos e um vestido de noiva emprestado? Por que ninguém tem pena dos filhos que iam todos os domingos dividir macarronada e refrigerante barato com o pai na detenção? Será que compaixão é um troço seletivo? Quem indeniza essa gente toda, que vem sendo privada, desde sempre, de qualquer oportunidade de vida decente? Mas, como disseram Caetano e Gil, presos são quase todos pretos, ou quase brancos quase pretos de tão pobres. Simplesmente não interessa. Pouco importa. A título de curiosidade, lêem-se os números da segurança pública na Veja e assiste-se ao filme do Babenco, como entretenimento, num domingo à tarde. Ao menos, uma reflexão belíssima (no limiar da possibilidade) do Fernando Bonassi, hoje, na Folha de São Paulo: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq0210200729.htm.

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