sábado, 1 de dezembro de 2007

Samba à paulista

Foi só uma pausa prum café. Coisa de paulistana que corre o dia todo de um lado pro outro e sente a cidade pulsar na sola dos pés. Às vezes, o estômago reclama e a cabeça faz sua parte: aviso mandado! Hora de parar, mas não totalmente. Um livro, um caderno, qualquer leitura que possa ser cumprida naqueles cinco minutos. Olhos distraídos, mas ouvidos atentos. Faz frio. O cheiro do café, antes mesmo do sabor e do calor, reconforta. Alguém entra e pede um dinheiro pro moço sentado ao lado. O moço não desconversa e negocia, ao invés da ajuda em espécie, alguma coisa pra acomodar a fome daquele homem de pés descalços. Negócio fechado. O moço não vira de lado com a impressão de dever cumprido. Parece ver através daquela figura revestida de penúria uma pessoa que, como ele mesmo, sente fome, frio, medo e, talvez, até sonhe. O moço ao meu lado não estava mesmo disposto a ignorar quem quer que fosse. Dirigiu seu sorriso à garçonete, que ficou visivelmente atrapalhada. Ali, para interagir com os clientes, precisava de pouco mais que dizer "sim" e "não". Mais uma trabalhadora anônima na multidão da urbe imensa. Não era o que o moço pensava. E foi assim que saí da minha dispersão. Alguém, bem ali ao meu lado, tinha o dom de enxergar as pessoas. Não se comportava como um paulistano típico. Mas era. E isso ficou claro quando, depois de puxar assunto comigo, entre uma trivialidade e outra, me falou de Vanzolini. “Ué, esse moço conhece o samba de Sampa?! Me fala mais disso aí, seu moço! Sim, eu também sou do samba! Ignore a palidez do meu rosto porque eu vibro mesmo é num batuque”. Por alguns minutos esquecemos que tínhamos feito só um breve intervalo nas nossas vidas de paulistanos inquietos. No cenário da nossa maior avenida, as britadeiras arrebentando o calçamento, os carros guiados por rostos cansados, nos sentimos em uma praça de cidadezinha do interior. Andamos, compramos jornal, paramos na ilha. Não tinha um banco. O concreto sendo dilacerado. Estranhados e felizes nos demos conta de que ainda éramos capazes de ver a cidade acinzentada com todas as suas cores. Éramos capazes de trocar dois dedos de prosa com um “desconhecido”. Éramos capazes de nos sentir não engolidos, mas acarinhados pela metrópole. O moço ao meu lado no café, se chama Danilo. Além de cidadão de verdade, faz versos bonitos. E está me devendo um samba!
*
De camisa listrada na avenida paulista
Encontrei Luciana - disfarçada sambista
Como boa paulistana ela tomava um café
E quando citei Vanzolini, ela parou:

Opa! Você também tem samba no pé!

Olhos e sorrisos cintilavam em sua alma
Motores poluídos ensurdeciam a cidade
Mas ela não perdia a calma.

O samba na rua, então floreou
São Paulo de filmes e Filme ela se lembrou
Da Barra Funda serena até a Vila Madalena
E chegar em Santo Amaro para o acender da Vela

Vamos formar a melodia desta metrópole aquarela

(Danilo)


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