terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Fenecer

"Até mais, querida". Isso ainda ressoa no meu ouvido, só que agora não mais como cantiga doce. Também não penso que foi escárnio. Acho que foi só um jeito suave de se despedir de alguém que você não sabia se veria de novo. E eu interpretei ao pé da letra. O "até mais" como um "até uma próxima vez". Uma próxima vez que iria acontecer. O mais, especialmente, como algo bom que se repete. "Querida" preferi não interpretar. Apenas senti como das outras vezes que você me chamou assim. Nunca achei que fosse à toa, uma banalidade pretensamente carinhosa. Antes de dizer, tinha sempre um sorriso teu, cheio de contornos indecifráveis. Depois do sorriso bonito e sonoro, uma pausa, tua mão no meu rosto, um beijo nos cabelos ... Era sempre nesse contexto. E sempre nos ensinam a interpretar as coisas dentro do contexto.


Naquela manhã, depois de ouvir o "até mais, querida", saí no oposto da tua direção, me sentindo mais próxima. O calor era tão forte, que tive que me despir de prudência, sentindo a alma cada vez mais nua. Egoisticamente, saboreava cada resquício teu em mim. Quis me abandonar nesse sonho, sem olhar para os lados. Aumentei o som e João cantava Amor à primeira vista, amor de primeira mão ... É ele que chega cantando, sorrindo ... Pedindo entrada no coração. Eu estava disposta a acreditar em todos os presságios que rodeavam a tua inesperada reaparição. Acho que passei o dia nesse torpor, cultivando a lembrança da tua voz e de tanta coisa que eu não podia entender, e que me vinha em bloco. Fui te recompondo, recriando, e aí, já era tarde.


Eu não pensei que o "até mais" fosse um adeus. Entendi tudo errado. Porque mesmo dizendo que não esperava nada, eu queria muito. Talvez nem você soubesse. Eu acho mesmo que não. Agora, tanto faz. Estou lidando com isso da melhor forma que posso. O tempo, sempre ele, tem feito a sua parte: te leva pra mais longe do que você se dispôs a ir. Tenho olhado para o que sobrou da recordação do teu sorriso com a resignação com que olhava para as minhas bolhas de sabão.

Um comentário:

Mônica disse...

Lú Arroyo;
Que sintonia fina a nossa... Acabei de descarregar um post (porque foi um desabafo descarregado mesmo) lá no meu blog. E aí resolvi passear pelos cantinhso das minhas amigas blogueiras. Tamanhó é o meu espanto quando me deparo com este belíssimo texto expressando exatamente mais ou menos a mesma sensação de quando escrevi no meu.
Menina, precisamos ir pro samba juntas. Temos histórias pra esquecer... Eu, vc e Fer...
Beijo grande,