terça-feira, 31 de março de 2009

Às vezes, encontro coisas tão parecidas com o que eu sinto, que me assustam.

O dia nasceu tão vibrante, com um brilho no olho das janelas que não deu: lembrei-me de minha avó, a Maria de Jesus. Vó do céu, que saudade, meu colo mais vibrante, a gargalhada que me fazia cócegas. Um amor desse, minha gente, um amor desse um dia perde o corpo e você não o ouve mais. Vou regar o jardim, que precisa de água, e caso você possa abraçar sua avó, diga que eu a amo também.

(Andréa del Fuego)

quinta-feira, 26 de março de 2009

Hoje

Para T,

Hoje é um dia especial. Ia dizer importante, mas acho que o que importa mesmo é ser especial. E nessa profusão de informação que me entope o peito de ansiedade, não vou conseguir reunir as palavras certas pra te dizer por que estamos dando esse passo juntos. Na verdade, eu sei por quê: porque eu amo nosso amor. E por que eu amo nosso amor? Vou emprestar as palavras da Marla.

Porque você chegou assim
Derramando poesia em mim
Inaugurando meu caderno
De pressentimentos bons

Por todas as noites e tardes
E amanheceres intensos
Pelos longos dias que passaram rápido
Pela história de prosperidade incerta
Mas de tanta inteireza e entrega
Eu te guardo na lembrança mais bonita

(Por todas as páginas que vestimos pra nos desnudarmos)

Meu menino bom
Meu poeta particular
Meu amante voraz
Por você se derramar
Até eu ficar molhada
Jamais esquecerei tuas incandescências
E esse amor que acendeu em mim
Novas exuberâncias

E se nunca havia me comprometido com tanta certeza
É porque eu tentava caminhar onde não havia espaço

(E no seu abraço eu encontrei o caminho mais perfeito pro meu próximo passo)

Marla de Queiroz


P.S.: Nunca vou esquecer que você me incentivou a ler "Mulheres", do Galeano. Meu melhor presente dos últimos tempos. E eu não ligo de chorar no metrô.

quinta-feira, 12 de março de 2009

O balanço

O amor fica nesse vai-e-vem
Pra lá e pra cá
Pra cá e pra lá
Vontade de deixar ir
E se ele não voltar?
Preguiça desse balançar

Volta aqui, amor
Deita no meu colo
Tira o frio da minha pele
Me embala com vagar
Medo desse balançar

Será que cai?
Será que vai?
Pra não voltar?
Volta aqui, amor
Se balançar demais
Meu coração pode escapar

Escapa, não
Não tem vazão
Balança pra lá, balança pra cá
Gira, cambaleia
Suspende, repousa e se arrima
No riso desse teu olhar

terça-feira, 10 de março de 2009

Dia D

Um dia ele chegou tão diferente do seu jeito de sempre chegar
Olhou-a de um jeito muito mais quente do que sempre costumava olhar
E não maldisse a vida tanto quanto era seu jeito de sempre falar
E nem deixou-a só num canto, pra seu grande espanto convidou-a pra rodar
E então ela se fez bonita como há muito tempo não queria ousar
Com seu vestido decotado cheirando a guardado de tanto esperar
Depois os dois deram-se os braços como há muito tempo não se usava dar
E cheios de ternura e graça foram para a praça e começaram a se abraçar
E ali dançaram tanta dança que a vizinhança toda despertou
E foi tanta felicidade que toda cidade se iluminou
E foram tantos beijos loucos, tantos gritos roucos como não se ouvia mais
Que o mundo compreendeu
E o dia amanheceu
Em paz

(Valsinha - Chico Buarque)

quinta-feira, 5 de março de 2009

?

“Pra onde vamos?” Achei que essa fosse a pergunta. Pra uma casa grande, um apartamento menor, um, dois quartos, uma casinha com espaço pra roseira, um canto pro cachorro? Estava apreensiva e feliz. As minhas, as suas coisas, adiante as nossas, e assim nos arranjaríamos com os nossos sonhos, dificuldades e certezas. De repente, essa sentença ficou grande demais. Perdeu sua convicção por esse chão árido da convivência e ganhou força apenas na dúvida: Vamos??? Eu era assim, você assado, eu fazia aquilo, você não fazia isso. Éramos dois estranhos: perfeitos um pro outro! Nada mais natural do que planejar uma vida inteira juntos, pra caber toda vontade dos nossos olhos ávidos e encantados. Com todos os meus pés no chão, e alguns atrás, escolhi me apaixonar por você. Por você? E quem era você? E você? Por quem se apaixonou? Estamos apaixonados pelas pessoas que somos, que fomos, que seremos? Existencialismo, agora, talvez não ajude muito. Só queria te dizer que há muito não sonho com príncipes. Nunca tive muita paciência pra contos de fadas. Fantasia, pra mim, sempre perpassou a humanidade que não cabe nas fábulas. Gosto mesmo é daquele alumbramento de que falou o Bandeira. Mas aí é quase revelação e não se pode questionar muito. Somos inquietos demais; nisso nos parecemos. Você, menos aventureiro, quer garantias. Eu, sempre, sempre e sempre, teimosia tatuada na alma, querendo ver o que é que tem lá na frente, o que é que vai ser. Será??? Tudo complicou quando eu decidi que não ia dar bola pra esse tal de destino. De lá pra cá, a única maneira de conhecer o final de uma história é chegando na última linha do último capítulo. Claro, não é persistência gratuita. É quase uma saudade antecipada me imaginar sem esse carinho que você me faz com o dorso da mão. Será que a gente já se conhece tanto pra dizer que não? Ou precisamos nos conhecer ainda mais pra dizer que sim? Aquele sim que a gente disse quando só sabia da delícia de uma recém-descoberta. Eu queria mesmo é que fosse lindo e simples como prometemos. Apenas aquele amor feinho da saudade roxa, multicolorida. Tentamos? Continuamos? Sim, eu quero.