terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Tributo à alegria




Alegria
(Assis Valente e Durval Maia)

Alegria, pra cantar a batucada
As morenas vão sambar
Quem samba tem alegria
Minha gente
Era triste, amargurada
Inventou a batucada
Pra deixar de padecer
Salve o prazer, salve o prazer

Da tristeza não quero saber
A tristeza me faz padecer
Vou deixar a cruel nostalgia
Vou fazer a batucada
De noite e de dia, vou cantar

Esperando a felicidade
Para ver se eu vou melhorar
Vou cantando, fingindo alegria
Para a humanidade
Não me ver chorar

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Adios, amigo!

Nem tudo são boas notícias, como o fim da saga da prova de espanhol. Saio saltitante, feliz da vida, querendo ouvir os meus afro-sambas e ... pois é, alguém havia feito a limpa. Estou orfã dos meus CDs, meus queridos tesouros. Espero que o meliante goste bastante de Chico, porque agora ele tem 05 discos, das fases mais variadas, do meu compositor/poeta preferido. Ah, sim, que se regale com os sambas de Noel, Cartola e os cantados por Clara. Não, eu não vou chorar. Mas achei um desaforo não ter levado duas edições da revista Língua Portuguesa, que lá ficaram, intactas. Poxa, que falta de consideração com a nossa flor do Lácio! E, o pior de tudo: o biltre levou o Sapôncio, meu sapo de pelúcia de tênis tipo kichute. Que diabos ele quer com meu sapo, me pergunto! Será que ele tava saindo, todo pimpão com meus CDs debaixo do braço e, num ar(roubo) infantil, arrebanhou meu amigo? Apesar do pesar de ficar sem meu companheiro, até simpatizei com essa atitude. Afinal, hay que endurecer, pero sin perder la ternura jamás ...
Adeus, Pôncio! Você vai fazer falta!

Se fue

Uhuuuuuuuuuuu! A maldita prova oral de espanhol, que aporrinhava minha vida já se foi, está num passado distante ... Ahora, sólo quiero decir a la profesora unas cositas:
*
¡Compra un bosque y piérdete!
¡No me cago en nada, tampoco en Dios, en la hostia, en la puta madre, pero me cago en sus clases pesadas!
¡Estoy hasta los cojones!
¡Coño!

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Fenecer

"Até mais, querida". Isso ainda ressoa no meu ouvido, só que agora não mais como cantiga doce. Também não penso que foi escárnio. Acho que foi só um jeito suave de se despedir de alguém que você não sabia se veria de novo. E eu interpretei ao pé da letra. O "até mais" como um "até uma próxima vez". Uma próxima vez que iria acontecer. O mais, especialmente, como algo bom que se repete. "Querida" preferi não interpretar. Apenas senti como das outras vezes que você me chamou assim. Nunca achei que fosse à toa, uma banalidade pretensamente carinhosa. Antes de dizer, tinha sempre um sorriso teu, cheio de contornos indecifráveis. Depois do sorriso bonito e sonoro, uma pausa, tua mão no meu rosto, um beijo nos cabelos ... Era sempre nesse contexto. E sempre nos ensinam a interpretar as coisas dentro do contexto.


Naquela manhã, depois de ouvir o "até mais, querida", saí no oposto da tua direção, me sentindo mais próxima. O calor era tão forte, que tive que me despir de prudência, sentindo a alma cada vez mais nua. Egoisticamente, saboreava cada resquício teu em mim. Quis me abandonar nesse sonho, sem olhar para os lados. Aumentei o som e João cantava Amor à primeira vista, amor de primeira mão ... É ele que chega cantando, sorrindo ... Pedindo entrada no coração. Eu estava disposta a acreditar em todos os presságios que rodeavam a tua inesperada reaparição. Acho que passei o dia nesse torpor, cultivando a lembrança da tua voz e de tanta coisa que eu não podia entender, e que me vinha em bloco. Fui te recompondo, recriando, e aí, já era tarde.


Eu não pensei que o "até mais" fosse um adeus. Entendi tudo errado. Porque mesmo dizendo que não esperava nada, eu queria muito. Talvez nem você soubesse. Eu acho mesmo que não. Agora, tanto faz. Estou lidando com isso da melhor forma que posso. O tempo, sempre ele, tem feito a sua parte: te leva pra mais longe do que você se dispôs a ir. Tenho olhado para o que sobrou da recordação do teu sorriso com a resignação com que olhava para as minhas bolhas de sabão.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Como se livrar de um mala no samba

Resolvi escrever sobre a minha suposta falta de educação com pessoas sem noção. Não, eu não sou blasé. Na verdade, eu sou muito da simpática. Mas, de fato, a minha simpatia tem limites, às vezes, estreitos. E, definitivamente, eu não vou pro samba pra bater papo. O batuque comendo solto, a voz potente da Graça retumbando, a cerveja esquentando no copo, e o santo encosta pra saber o que eu faço da vida?! Amigo, muchas cosas!!! Anota aí seu email, que depois te mando em ordem alfabética e de preferência. Quer conversar? E gritando no meu ouvido (porque sem barulho eu já sou surda, com batuque nem se fala)?! Lo siento! Já tentou a Hebe? Fica aí minha sugestão. Ah, tá, você quer dançar? Bora, que pra isso eu até encosto o copo. Mas você não sabe? E quer que eu te ensine? Eu não sei nem pra mim, filho!!! E pra pagar mico, deixa que eu pago sozinha. Sai mais barato! Aliás, mando no email o endereço do Jaime Arôxa também. Intervalo, afinal o samba merece descanso. Agora, sim, além de sorrisos, posso distribuir palavras ao vento. Mas, veja bem, não capriche na babaquice, que eu capricho na paciência. Tolero quase todos os chavecos, sem demonstrar o que, de fato, me despertam. Fezita está de prova. Limites, limites. Não, querido, se eu quisesse "beijar na boca" eu teria ido pruma micareta! Eu vim ouvir Paulinho, Noel, Cartola. Já ouviu falar? Pois é, então ... Você estuda na FAAP? Ôpa, que bom pra você! Acredita no poder da mente? Eu tô mentalizando uma forma de você desaparecer da minha frente. E não é que o banheiro está berrando o meu nome?! Fui!

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Bom tempo


Essa imagem tá lá no UOL. Apesar do mau tempo, achei incrivelmente bonita. Aquele casal pequenininho, diante da imensidão do mar, abraçado e protegido por um guarda-chuva. Isso, talvez, prove que, quando a gente ama mesmo, não tem tempo ruim.


Eu teria olhado o mar contigo, debaixo da chuva ...

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Momento escuro

Há doenças piores que as doenças

Há doenças piores que as doenças,
Há dores que não doem, nem na alma
Mas que são dolorosas mais que as outras.
Há angústias sonhadas mais reais
Que as que a vida nos traz, há sensações
Sentidas só com imaginá-las
Que são mais nossas do que a própria vida.
Há tanta cousa que, sem existir,
Existe, existe demoradamente,
E demoradamente é nossa e nós...
Por sobre o verde turvo do amplo rio
Os circunflexos brancos das gaivotas...
Por sobre a alma o adejar inútil
Do que não foi, nem pôde ser, e é tudo.

Dá-me mais vinho, porque a vida é nada.

(Fernando Pessoa)

Ainda tô ressentida do que não foi, nem pôde ser. E tenho que aceitar que isso é tudo. Tenho que aceitar que a minha vontade foi só minha. Tenho que aceitar que a vida é assim mesmo. Tenho que aceitar essa coisa que, sem existir, existiu demoradamente só pra mim. E que, demoradamente, aqui está. Tenho que aceitar que as sensações que senti, tão íntimas, já são nada. E se isso é nada, o amor é nada. E se o amor é nada, a vida é nada. Então, dá-me vinho. E que a embriaguez me salve!

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Viva o Samba!

Ontem foi o Dia Nacional do Samba. Isso não é pouca coisa, afinal trata-se da nossa maior expressão de cultura popular. Para "entrar no clima" seria inútil tentar escolher o melhor samba, ou o mais bonito. Então, vou de samba paulista, com um dos seus principais representantes:

Eu vou mostrar
Eu vou mostrar
Que o povo paulista
Também sabe sambar

Eu sou paulista
Gosto de samba
Na Barra Funda, também tem gente bamba
Somos paulistas e sambamos pra cachoro
Pra ser sambista não precisa ser do morro

(Geraldo Filme - Eu vou mostrar)

sábado, 1 de dezembro de 2007

Samba à paulista

Foi só uma pausa prum café. Coisa de paulistana que corre o dia todo de um lado pro outro e sente a cidade pulsar na sola dos pés. Às vezes, o estômago reclama e a cabeça faz sua parte: aviso mandado! Hora de parar, mas não totalmente. Um livro, um caderno, qualquer leitura que possa ser cumprida naqueles cinco minutos. Olhos distraídos, mas ouvidos atentos. Faz frio. O cheiro do café, antes mesmo do sabor e do calor, reconforta. Alguém entra e pede um dinheiro pro moço sentado ao lado. O moço não desconversa e negocia, ao invés da ajuda em espécie, alguma coisa pra acomodar a fome daquele homem de pés descalços. Negócio fechado. O moço não vira de lado com a impressão de dever cumprido. Parece ver através daquela figura revestida de penúria uma pessoa que, como ele mesmo, sente fome, frio, medo e, talvez, até sonhe. O moço ao meu lado não estava mesmo disposto a ignorar quem quer que fosse. Dirigiu seu sorriso à garçonete, que ficou visivelmente atrapalhada. Ali, para interagir com os clientes, precisava de pouco mais que dizer "sim" e "não". Mais uma trabalhadora anônima na multidão da urbe imensa. Não era o que o moço pensava. E foi assim que saí da minha dispersão. Alguém, bem ali ao meu lado, tinha o dom de enxergar as pessoas. Não se comportava como um paulistano típico. Mas era. E isso ficou claro quando, depois de puxar assunto comigo, entre uma trivialidade e outra, me falou de Vanzolini. “Ué, esse moço conhece o samba de Sampa?! Me fala mais disso aí, seu moço! Sim, eu também sou do samba! Ignore a palidez do meu rosto porque eu vibro mesmo é num batuque”. Por alguns minutos esquecemos que tínhamos feito só um breve intervalo nas nossas vidas de paulistanos inquietos. No cenário da nossa maior avenida, as britadeiras arrebentando o calçamento, os carros guiados por rostos cansados, nos sentimos em uma praça de cidadezinha do interior. Andamos, compramos jornal, paramos na ilha. Não tinha um banco. O concreto sendo dilacerado. Estranhados e felizes nos demos conta de que ainda éramos capazes de ver a cidade acinzentada com todas as suas cores. Éramos capazes de trocar dois dedos de prosa com um “desconhecido”. Éramos capazes de nos sentir não engolidos, mas acarinhados pela metrópole. O moço ao meu lado no café, se chama Danilo. Além de cidadão de verdade, faz versos bonitos. E está me devendo um samba!
*
De camisa listrada na avenida paulista
Encontrei Luciana - disfarçada sambista
Como boa paulistana ela tomava um café
E quando citei Vanzolini, ela parou:

Opa! Você também tem samba no pé!

Olhos e sorrisos cintilavam em sua alma
Motores poluídos ensurdeciam a cidade
Mas ela não perdia a calma.

O samba na rua, então floreou
São Paulo de filmes e Filme ela se lembrou
Da Barra Funda serena até a Vila Madalena
E chegar em Santo Amaro para o acender da Vela

Vamos formar a melodia desta metrópole aquarela

(Danilo)