terça-feira, 13 de novembro de 2007

Caminhando

Continuo mais pra melancolia possível de uma flauta doce do que pra euforia inescapável do pandeiro. De qualquer forma, o jeito é seguir. Ler tudo. Ler o tempo todo. Nossa, como ajuda! Ocupar essa cabeça que se recusa a brigar com todo o resto, mas preenchida ganha forças e se sente quase senhora de si. Ler é a melhor forma de compartilhar as aflições. Quanta gente procurou e continua procurando o mesmo remédio, na certeza mais lúcida de que se está diante do irremediável?! E falando em leituras, estou me apaixonando mesmo pelas letras portuguesas. Herberto Helder é a bola da vez. Não sei se ele é uma espécie de Chico Buarque português, ainda que não tenha nada a ver com música, mas vai entender de alma feminina assim lá na Ilha da Madeira! Depois do maravilhoso Receituário da dor para uso pós-moderno, do João Barrento, vou de Al Berto - o Lunário. Indicações preciosíssimas da professora de Literatura Portuguesa. Ok, estou mesmo carregando na literatura angustiada, mas podia ser pior. Suspendi Kafka e Dostoiévsky. Por enquanto.
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" ... Estes homens esbulham-nos. Exploram a fonte maternal de que somos dotadas, ficam ali sugando o nosso leite, e deixam-nos completamente vazias. Raça de exploradores. Mergulham a cabeça entre os nossos seios brancos e somos obrigadas a acariciá-los em silêncio, enquanto de olhos cerrados, através de uma suntuosa orgia de recordações e contradições, compõem a sua paz interior, enquanto se recuperam, eles, deixando-nos exautas ... Cegueira maternal, furiosa força de doçura que me empurra para o homem, para a sua perpétua e louca orfandade ..."
(Duas pessoas, Os passos em volta - Herberto Helder)
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" ... Nas platinelas do pandeiro coloquei surdina ..."
(Armando Fernandes, por Clara Nunes)

2 comentários:

Anônimo disse...

Escrever angustiado...
Feliz ou infelizmente, nada melhor...
Amei as citações dos textos, quero ler essa criatura que decifrou essa disponibilidade feminina para a maternidade. Ser mãe de quem não é filho: especialidade feminina.
bjs

menina disse...

malditos geminianos e benditos textos portugueses...rs
bitoca