terça-feira, 20 de novembro de 2007

Saravá!



Lindo ver a cultura negra, afro e afro-brasileira nas ruas da cidade. Movimentos de dança que são a própria natureza em manifesto. Música que te tira do eixo, que quer te levar pra todos os lados. Ritmos que despertam o teu corpo. Literatura de lamento doce. Sem dúvida, Consciência Negra é muito mais do que essa cultura riquíssima no foco das atenções uma vez por ano. Até porque um dia é muito pouco e os espaços pequenos pra caber toda negritude brasileira que, com tantos anos de opressão, sequer pôde preservar sua identidade. Nenhuma escravidão durou mais do que a dos negros que vieram ao Brasil. Provavelmente, nenhuma escravidão doeu mais também. Na pele e no espírito. Desagregação tribal e familiar, repressão de suas expressões religiosas e litúrgicas, fora a violência física. Fora a abolição que não integrou o negro que só sabia servir. Integração que, passado mais de um século, não se concretizou. E é só por isso que é preciso entender as Cotas e o Dia da Consciência Negra como pílulas de placebo administradas pra fechar uma ferida sem proporções. O efeito da pílula é nulo. Mas foi preciso olhar pra ferida. E os negros brasileiros, cada vez mais, olham para as suas feridas e se reconhecem como a grande força cultural desse país. Olham pra si e dão um salve a Zumbi dos Palmares, um salve à sua Mãe África, um salve aos seus Orixás. Olham pra si e, através do resgate de suas raízes, sentem-se verdadeiramente livres, negros e brasileiros.

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