quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Bilhete

Na próxima manhã que eu me despedir, não vou esperar você despertar. Sorrateira, na ponta dos pés, me levanto sem te acordar, e deixo um bilhete na tua cabeceira. Vou tentar ser sucinta, até porque não há nenhuma novidade esperando patente. Apenas uma tradução de tudo isso que eu ando te dizendo sem palavras. Sabe esse sorriso que se abre quando eu te encontro? As aflições que se encerram nesse abraço inteiro, enorme, balsâmico que você me dá? A delícia incontrolável de ouvir você cantando, a avidez de conhecer a tua história? É tão difícil e tão perigoso te dizer tudo isso. Ao mesmo tempo tão necessário. Fico ansiosa por uma oportunidade, uma brecha qualquer pra me embrenhar nesse labirinto perdido que você carrega nos olhos. Mas aí, você chega e eu não consigo. Ou melhor, consigo, mas de outro jeito. Eu podia estancar tudo e falar, falar, falar ... Mas, ao invés disso, dou voz à minha pele. Quero todos os minutos, cada um deles, apenas pra experimentar o que me custa tanto argumentar. Prefiro apostar na comunicação das nossas mãos misturdas, dos nossos cheiros entrelaçados. Eles se entendem tão bem! Mas depois que você se vai, meu peito aperta e fica pedindo significação. Como? Se o que dissemos foi tão breve, e o nosso discurso só pode ser tomado na semi-escuridão em que acontece. Períodos curtos. Coordenação perfeita. Subordinação apenas entre os nossos desejos. E então, espero de novo ... Quem sabe mais um pequeno instante, meia hora pra que eu possa desvendar a semântica desajustada dessa cronicazinha que eu inventei pra nós dois. Mas, se eu falhar mais uma vez, deixo o bilhete. Recolho essas letras que tenho espalhado pelas entrelinhas do teu corpo e as prendo num papel em branco. Duas palavras. Sintaxe de primeiro grau. Um verbo transitivo e seu complemento: "Quero você."

Um comentário:

menina disse...

Uau cumpanhêra...
Perdi o ar...
Vamos beber hoje?
Beijos