sexta-feira, 20 de julho de 2007

Tô te explicando pra te confundir ...

Domingo fui assistir Fabricando Tom Zé. O documentário de Décio Matos Jr. mostra o músico e sua banda em turnê pela Europa e também no badalado Festival de Montreaux. Bem, Tom Zé sempre foi uma figura estranha pra mim. Tinha simpatia e tal, por conhecer a sua irreverência, mas nada que me fizesse parar pra prestar atenção. Fiquei impressionada! Tom Zé é incrível como artista e uma pessoa de um vigor fantástico. Além de seus experimentos musicais, seu conhecido e até folclórico jeito enigmático de falar, ele é delicado e firme, nas situações pertinentes. É delicado pra tratar as flores do jardim do prédio onde mora, em Perdizes, pra lidar com a população do mesmo bairro, pra fazer canções de amor pra essa cidade louca. E é firme pra falar a verdade. Pra dizer que Caetano e Gil o relegaram à margem do Tropicalismo e que isso lhe rendeu um ostracismo de muitos anos, gastrite, depressão ... Até que em um belo dia, eis que surge David Byrne. Ou melhor, eis que Tom Zé surge para David Byrne e ressurge para o público ... primeiro, o de fora, depois, aos poucos, o da terra basilis. Tom Zé é exageradamente firme consigo mesmo, ao não assumir sua genialidade e se dizer um "japonês" esforçado. O filme todo é sensacional, os depoimentos de Tom são engraçadíssimos e três momentos me chamaram muito a atenção:
- Tom Zé e banda passando som para o Festival de Montreaux - os produtores, ensnobemente, diziam não entender sua música "imprecisa". Depois de algumas tentativas sem sucesso e tendo aturado muito mais esnobismo, Tom Zé não aguentou e os botou pra correr, os mandou "pra porra", no melhor estilo baiano. Não admitiu a humilhação. Dá-lhe, TOM!
- O excelentíssimo Ministro da Cultura, Gilberto Gil, diferentemente de Caetano, que titubeou, mas assumiu a mesquinhez, disse que não retomou as relações tropicalistas com Tom Zé, pq foi opção deste se recolher. Um puta cara dura! Toma vergonha, ministro!
- A Neusa - Neusa é a companheira de muitos anos de Tom Zé. E Neusa o ama, o acompanha e o auxilia com paciência, fidelidade e desprendimento caninos. Esclarece que o marido, quando compõe, fica nervoso e a trata mal. Tom corrobora. Mas Neusa compreende. Diz, em certo momento, não ter a veleidade de ter muita importância na vida dele, pq, afinal, ele é artista. E, para artista, explica, o que interessa é a arte. Neusa deve ter visto que, propositalmente, na edição do filme, logo anteriormente ao que ela disse, Tom dizia que sua vida, hoje, é dedicar-se ao bem-estar da mulher. Tá certo, Tom Zé não é muito romântico mesmo. Declara que se casou com a Neusa pq era inseguro e ela lhe aliviava as aflições. Segundo ele, sentir-se seguro é uma forma de amar. Pode ser.
A partir de agora, quero sempre parar pra prestar atenção em Tom Zé.

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