Eu cresci ouvindo samba e depois o desprezei por um bom tempo, como a gente faz com quase tudo que vem enraizado da infância. O fato é que voltei amá-lo. Não canso de ouvir e me deslumbrar com as letras de Noel, Ataulfo, Candeia, Adoniran, Cartola, Paulinho, Vanzolini, Geraldo Pereira, Nelson Cavaquinho e mais. Os sambas do Chico sempre foram amados, porque seriam se fossem fados ou tangos. Toda vez que eu vou no Ó (do Borogodó, para os menos íntimos), volto com um choro lindo na cabeça e a alma acalentada. Um dia desses, Carmem Queirós cantou Clara Nunes e eu quase tive um colapso de alegria! Simplesmente as músicas que minha mãe colocava na vitrola e cantávamos em coro, eu, ela e a Ni. O samba tem que ser sempre nostálgico? Sim, porque por mais alegre que seja, se não tiver um lamento, ainda que escondido ou disfarçado em deboches, não será samba. Até gosto de um sambão exaltado e da felicidade colorida da bossa nova, mas ando muito afinada com os sambas chorados, dor de cotovelo total, no melhor estilo "tire o seu sorriso do caminho ...". E já tava aflita, sem saber como terminar esse post, quando ouço os primeiros acordes de A ordem é samba (apropriado, não?), de Jackson do Pandeiro, nas vozes de Ney Matogrosso e Pedro Luís e a Parede:
É samba que eles querem
Eu tenho
É samba que eles querem
Lá vai
É samba que eles querem
Eu canto
É samba que eles querem
Nada mais
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