Quando eu era criança e queria provar pro meu avô o quanto tinha doído o castigo dado pela minha mãe, normalmente umas chineladas na bunda, eu dizia que me havia feito chorar “de lágrima”. Chorar de lágrima era uma conseqüência fortíssima de um ato de crueldade irrefutável. Parece que, quando se é criança, é muito fácil chorar de lágrima. Espernear, berrar a plenos pulmões e deixar toda a água do mundo escorrer canais lacrimais afora. Sempre vejo a criançada se escangalhando de tanto chorar. Depois que a gente cresce, aprende a chorar a seco, e só furtivamente se permite transbordar. Outra coisa curiosa é que criança quase sempre chora de tristeza e ri de alegria. Que simples ser criança! Mais tarde se aprende a rir pra não chorar, ou pra disfarçar o desespero. E também choramos a seco, engolindo soluços e decepções goela abaixo. Aprendemos a reprimir a dor e a conviver com ela. E a modernidade nos diz que não há mais espaço para donzelas românticas, “manteigas-derretidas” e “marias-choronas”. E homem, macho de verdade, nunca foi de chorar.
Esses dias, no metrô, uma mulher chorava de lágrima, exatamente como eu fazia quando criança. A diferença é que ela não tinha sido castigada. Ao menos, não com palmadas ardidas. Feição aflita, cabeça baixa e lágrimas que, ainda que ela tentasse conter, teimosas, saltavam, dançavam pelo seu rosto. Tinham tanto volume que escorriam e respingavam sobre a sua blusa. E, de repente, aquela desconhecida se tornou tão próxima, tão familiar. Sem alternativa e esconderijo, ela se entregava à tristeza. Senti um desconforto, uma impotência. Quais seriam suas razões, o que havia por trás daquela face pungida? A mulher parecia envergonhada, mas, ao mesmo tempo, sem nenhuma chance contra o próprio pranto. A cena repelia tanto os simples curiosos, como os verdadeiros samaritanos. Igualmente desconcertada, saí do vagão tentando desviar o olhar. Mas aquelas lágrimas, cujas motivações eu desconhecia, me impregnaram. Voltei a lembrar do meu choro de criança – molhado, intenso e sem pudores – e também dos meus choros de mulher, quase sempre em privacidade e acompanhados de um fofo travesseiro. Meus olhos marejaram, instintivamente. Enxuguei-os e contive a emoção. Afinal, deter as lágrimas, secas ou molhadas, é a árdua tarefa de todos, todos os dias.
Esses dias, no metrô, uma mulher chorava de lágrima, exatamente como eu fazia quando criança. A diferença é que ela não tinha sido castigada. Ao menos, não com palmadas ardidas. Feição aflita, cabeça baixa e lágrimas que, ainda que ela tentasse conter, teimosas, saltavam, dançavam pelo seu rosto. Tinham tanto volume que escorriam e respingavam sobre a sua blusa. E, de repente, aquela desconhecida se tornou tão próxima, tão familiar. Sem alternativa e esconderijo, ela se entregava à tristeza. Senti um desconforto, uma impotência. Quais seriam suas razões, o que havia por trás daquela face pungida? A mulher parecia envergonhada, mas, ao mesmo tempo, sem nenhuma chance contra o próprio pranto. A cena repelia tanto os simples curiosos, como os verdadeiros samaritanos. Igualmente desconcertada, saí do vagão tentando desviar o olhar. Mas aquelas lágrimas, cujas motivações eu desconhecia, me impregnaram. Voltei a lembrar do meu choro de criança – molhado, intenso e sem pudores – e também dos meus choros de mulher, quase sempre em privacidade e acompanhados de um fofo travesseiro. Meus olhos marejaram, instintivamente. Enxuguei-os e contive a emoção. Afinal, deter as lágrimas, secas ou molhadas, é a árdua tarefa de todos, todos os dias.
2 comentários:
Escreva todos os dias!!!
FASCINANTE!!! Tocante!!!
Iá
Olha, só depende da senhora, coluna 15nal, façafavô!
Tem quem te queira diarimente..
bjs
M.
Postar um comentário