quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

O frágil milagre da vida

Mais um começo de ano, mais um verão chuvoso, mais desastres, alagamentos, prejuízos quilométricos e, o mais grave de tudo, muito mais vidas perdidas. Prejuízo incalculável. E toda essa tragédia desfilada aos nossos olhos pela TV me faz pensar, mais angustiadamente, na nossa vulnerabilidade. Não se morre só de câncer ou cólera, infarto do miocárdio ou meningite. Cada dia mais vale a máxima que eu sempre ouvi das minha mãe - "pra morrer, basta estar vivo". E você pode estar em casa, sentindo-se abrigado, protegido, a salvo. Nada. Não sei se levo muito a sério a outra máxima da minha mãe, a de que "quando chega a hora, não tem jeito", mas é terrível pensar que somos assim tão perecíveis, tão insignificantes, diante da enormidade e implacabilidade da natureza e dessa suposta "hora que chega". Pensei também no famoso título do Kundera, "A insustentável leveza do ser", já que embora o romance não trate necessariamente dessa fragilidade, os adjetivos "leve" e "insustentável" servem perfeitamente a esse sentimento. E o que eu mais penso agora, que há um serzinho crescendo dentro de mim, é que essa necessidade de proteção instintiva é, ao mesmo tempo, o céu e o inferno da maternidade. Só depois da gravidez confirmada e de uma incipiente barriga é que eu começo a me dar conta da veracidade de uma frase que antes me parecia meio cafona: "a vida é um milagre". Mas por que tem que ser um milagre assim tão efêmero? No fundo, eu sempre soube de uma coisa. Se um dia eu pudesse acabar com uma dor humana, eu cessaria a dor das mães que perdem seus filhos. Não deve haver nenhuma pior, afinal, pra todas as outras tem morfina. Sei que esse texto tá pessimista demais pra um começo de ciclo, mas não é assim tão grave. Por mais inútil que nos pareça, principalmente diante de grandes catástrofes, vamos seguir tentando evitar o cigarro, as gorduras trans e o colesterol, vamos continuar trabalhando por mais conforto, habitações seguras e férias na praia, vamos fazer de tudo para que nossos filhos cresçam saudáveis e inteligentes, vamos nos solidarizar com as dores alheias de perto ou de longe, enfim vamos continuar lutando pela vida, por esse milagre tão fugaz, tão trivial e tão incrível.

6 comentários:

Iara Ga Iañez disse...

Bem vinda ao time das mamães! A fragilidade da vida é o eterno martírio das mães.
Posso contribuir com uma máxima?
"Só peru morre na véspera."
Beijos

Um brasileiro disse...

oi moça. tudo blz? estive por aqui. gostei. apareça por la. abraços.

Arkdoken disse...

É isso aí, moça. Não sabemos quem nos botou aqui, não sabemos pra quê, mas já que estamos, vamos tentar fazer o melhor, pra nós e, principalmente, para os que vierem nos suceder. Traga mais esse principezinho ou princesinha pro nosso mundinho. Viver é perigoso, mas é gostooooso!...

Wânyffer Monteiro disse...

Nenhuma mãe deveria enterrar um filho. Desse ser a pior dor do mundo.
Tragédias, cada dia em maior quantidade, cessam vidas, cada dia menos vividas.
Crônica sensível e forte.
Parabéns. seguindo

M. [doc] B. disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
M. [doc] B. disse...

Isso foi verdadeiro, senti.