Eu não sei se consigo compartilhar o que pensei alguns minutos atrás sendo sintética. Porque nos últimos minutos eu pensei tanta coisa. Se você soubesse. Minha cabeça não para e isso, às vezes, me enfada tanto. Porque eu queria tanto relaxar, não pensar em nada, concentrar minha mente toda numa laranja redonda, meio verde meio amarela, ou numa nuvem que tem forma de orelha de coelho. E eu pensei tanto que tive que parar um minuto e ir até o banheiro enxugar as lágrimas. A Mari já chorou aqui ao meu lado hoje, com saudades da Juju, e eu fiquei pensando que as pessoas são tão solitárias. Tá todo mundo tão deprimido, insatisfeito, querendo fugir, querendo encarar, numa gangorra que não sai do chão, morrendo. Pós modernidade. Eu pensei nesses últimos minutos que eu queria saber mais sobre o que faz a sua alma doer, do que sobre o que você abdica pra estar comigo. Mas não deu tempo de te falar. Porque a minha mente é senhora de mim e, embora ela não se concentre em laranjas e coelhos, se concentra em teimosias que só me fazem sofrer. A minha alma dói tanto também. Será que temos dores parecidas? Me conta onde a sua dói mais? O que você toma pra passar? Sorriso é analgésico de alma? Você gosta tanto de se sentir apaixonante nos meus sorrisos. Nos sorrisos de quem te ama. Ultimamente, você vem usando uma tática infalível. "Pensa no sorriso da Gabi", você diz. E, instantaneamente, todo cinza sai do meu rosto. Mas, às vezes, a alma dói numa proporção que a gente não consegue achar prescrição que dê conta. Você já teve dor parecida? E a cabeça, como é que eu faço ela parar de pensar o que eu não quero? Você sabe que eu sou careta e chá de erva-cidreira não faz efeito pra esse tipo de aflição. Acho que é mais pra susto mesmo. Nesse últimos minutos eu pensei se você tem, pelo menos, quatro objetivos na vida. E eu me sinto tão desnorteada. Não sei em que esquina da vida eu perdi a minha bússola. Nem sei se eu tive uma. O que eu quero, afinal? Eu, tão controladora, sempre querendo as rédeas nas mãos, tô deixando a vida me levar. Mas nada é escolha minha? Só porque eu não cheguei numa mesa de domingo, com a família reunida, e disse: "Eu quero ser feliz". Não, esse não é mesmo um objetivo meu. Mas qual é? Não sei, não sei, não sei. Por que eu não posso não saber? Por que eu tenho que ter objetivo? Eu quero primeiro comprar um sofá pra sala e depois trocar de carro e fazer uma poupança pra gente poder comprar a nossa casa, se finalmente a gente se entender. Eu simplemente não consigo assumir isso como objetivos de vida. A gente vive pra isso? Pra comprar sofá e ter carro bonito e casa própria? Por que eu preciso tanto ter um objetivo? O que eu queria é ter missão. Missão é incontestável. E tudo isso passou pela minha cabeça nesses últimos minutos. Por que tá todo mundo triste do meu lado e eu não consigo fazer nada? Por que eu continuo assistindo ao noticiário, me convencendo de que acabou o meu idealismo? Eu não tenho resposta pra nada disso. Será que eu faço mestrado, arranjo um emprego público, tenho um filho, ou espero o que vier primeiro? O barco tá correndo e eu não sei pra onde remar. Tô só tocando pra ver se o mar me navega, como na canção do Paulinho. Que decida minha próxima parada. E eu fico triste que seja assim. Eu não quero e a alma dói. Será que eu vou me esforçar cada vez mais pra ver sentido no pragmatismo desse mundo? E vou te cobrar o que todo mundo (esse todo mundo que você abomina) acha que é bom, bonito e certo? Porque o que eu queria mesmo era ver sentido só em coisas como esse sonho que a gente teve juntos essa madrugada. Porque as almas são mesmo incomunicáveis e quando a gente cala, tudo se enche de sentido. E eu queria poder te dizer outras tantas coisas que só devem fazer sentido pra mim, porque a minha cabeça continuou processando, enquanto meus dedos teclavam. Eu queria te dizer que tudo o que eu mais quero é encontrar sentido pras coisas. Seja um sentido prático, psíquico ou espiritual. Mas será que alguma coisa faz sentido? Por que algumas pessoas percorrem tantos caminhos pra descobrir isso, enquanto eu só consigo me enlaçar com meus próprios braços, como eu estava ontem, quando você se deitou do meu lado e tentou achar uma brecha pra me dar carinho? Eu só quero poder dizer que eu não sei, sem me sentir tão culpada, tão frustrada comigo mesma. Mas talvez um dia eu consiga achar algum sentido, sim. Talvez, antes, eu precise chegar na mesa do domingo e dizer "o meu bjetivo é ...". E aí eu vou persegui-lo e chegar feliz, lá na linha de chegada. Então, talvez, eu consiga pensar só na laranja, redondona, de pele brilhante, rindo pra mim. Talvez eu consiga respeitar seu milímetro mais recôndito. Talvez eu consiga te amar sem comparar com o quanto você me ama. Mas onde é que tá doendo? Por que você não chora um pouco? Você não precisa deixar isso pra trás. Eu também tenho muito medo. E você tem razão. A gente não tem mesmo que contar tudo um pro outro. Nem sobre descobertas fantásticas, nem sobre medos tolos. Acho que a gente deve se comunicar pelos sonhos. Talvez um dia a gente assista à novela juntos e se pergunte quem é o galã que tá beijando a mocinha, que trabalhou naquela novela das sete, fazendo par com a atriz que morreu, como meus avós faziam. Porque pensar a vida com você me dá a única certeza que eu tenho. Isso nunca vai sair daqui de dentro. Mas uma hora eu aprendo a viver comigo e paro com essas DRs internas, que me exaurem tanto. E então minha cabeça vai ficar tão leve e tão vazia, que vai caber uma nuvem com orelha de coelho dentro. Ah, eu não posso esquecer. Eu amo você.
quinta-feira, 23 de julho de 2009
Assinar:
Postar comentários (Atom)
2 comentários:
Ai Lu... crise dos 30, retorno de Saturno, balzaquianismo... por que será que temos que ser tão iguais? E por que isso nos faz assim, decaídos e abençoados em um minuto?
Beijos pensativos, igualmente perdidos e auto-identificados...
Ju
Amei.
Postar um comentário