Fiquei pensando que o amor sempre chega numa fase em que estaciona. Sim, pode ser a tal fase morna, aquela em que não faísca mais, mas também, ao contrário do desconforto do frio, é aquela mansidão de banheira em que a gente quer se deixar ficar. Aquele amálgama de tanta coisa que já foi vivida, sofrida, desentendida, acordada ou, simplesmente, deixada em algum canto onde não vá atrapalhar a passagem. Porque em se tratando de amor, aparar todas as arestas, por mais artista da convivência que se seja, é simplesmente inviável. No máximo, consegue-se podar umas e outras, às vezes nossas, outras, do outro. E os cantos vão ficando repletos de coisas de que abdicamos, desconsideramos, relevamos, fazemos vistas grossas. Vez ou outra, tropicamos numa delas e acaba machucando, incomodando, mas seguimos. Seguimos pro nosso quentinho, morninho, o amor de banheira, cuja profundidade não oferece mais nenhum perigo.
segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011
quinta-feira, 13 de janeiro de 2011
O frágil milagre da vida
Mais um começo de ano, mais um verão chuvoso, mais desastres, alagamentos, prejuízos quilométricos e, o mais grave de tudo, muito mais vidas perdidas. Prejuízo incalculável. E toda essa tragédia desfilada aos nossos olhos pela TV me faz pensar, mais angustiadamente, na nossa vulnerabilidade. Não se morre só de câncer ou cólera, infarto do miocárdio ou meningite. Cada dia mais vale a máxima que eu sempre ouvi das minha mãe - "pra morrer, basta estar vivo". E você pode estar em casa, sentindo-se abrigado, protegido, a salvo. Nada. Não sei se levo muito a sério a outra máxima da minha mãe, a de que "quando chega a hora, não tem jeito", mas é terrível pensar que somos assim tão perecíveis, tão insignificantes, diante da enormidade e implacabilidade da natureza e dessa suposta "hora que chega". Pensei também no famoso título do Kundera, "A insustentável leveza do ser", já que embora o romance não trate necessariamente dessa fragilidade, os adjetivos "leve" e "insustentável" servem perfeitamente a esse sentimento. E o que eu mais penso agora, que há um serzinho crescendo dentro de mim, é que essa necessidade de proteção instintiva é, ao mesmo tempo, o céu e o inferno da maternidade. Só depois da gravidez confirmada e de uma incipiente barriga é que eu começo a me dar conta da veracidade de uma frase que antes me parecia meio cafona: "a vida é um milagre". Mas por que tem que ser um milagre assim tão efêmero? No fundo, eu sempre soube de uma coisa. Se um dia eu pudesse acabar com uma dor humana, eu cessaria a dor das mães que perdem seus filhos. Não deve haver nenhuma pior, afinal, pra todas as outras tem morfina. Sei que esse texto tá pessimista demais pra um começo de ciclo, mas não é assim tão grave. Por mais inútil que nos pareça, principalmente diante de grandes catástrofes, vamos seguir tentando evitar o cigarro, as gorduras trans e o colesterol, vamos continuar trabalhando por mais conforto, habitações seguras e férias na praia, vamos fazer de tudo para que nossos filhos cresçam saudáveis e inteligentes, vamos nos solidarizar com as dores alheias de perto ou de longe, enfim vamos continuar lutando pela vida, por esse milagre tão fugaz, tão trivial e tão incrível.
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