quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Do tempo da minha avó

Tenho pensado muito na minha avó e acho que o nome disso é mesmo saudade. E daí que hoje cedo vi uma reportagem na TV, com uma senhorinha linda, que vive numa vila isolada, no sertão de Pernambuco, de onde não sai e de onde conserva as melhores recordações da sua vida. Aí, de repente, ouço aquela canção que a Maria Gadú fez para a avó dela, que diz mais ou menos assim: "de todo o amor que tenho, metade foi tu quem me deu, salvando minh'alma da vida, sorrindo e fazendo o meu eu ...". Fiquei matutando que as avós são esses seres cheios de histórias pra contar, de um mundo que já não existe mais, de uma ternura quase inconcebível nas nossas vidas metropolitanas. A minha avó, essa de quem eu tenho tanta saudade, me contava dos bailes de carnaval do interior, das farras no caminho do sítio para a escola primária, dos namoros que demoravam dez anos pra acontecer, das bonecas feitas de sabugo de milho, do arroz com galinha fumegando no fogão à lenha ... E a grande maravilha disso é que, enquanto ela rememorava, ela me dava um pouco disso, me permitia viver esses cheiros e cores que ela tinha tão vivos na memória. E então, me peguei pensando quais histórias eu e as mulheres da minha geração teremos para contar para os nossos netos. Vamos falar das festas meio bacanais da faculdade, do quanto foi difícil afirmarmo-nos no mercado de trabalho, dos namoros que aconteceram e duraram apenas um dia, das nossas bebedeiras infindáveis pelas baladas da vida, do quanto fizemos para sermos as fodonas e não mulheres submissas como as nossas avós? Ok, são histórias. Mas cadê a poesia disso? Onde estão os gostos, os cheiros, os passarinhos? Que tipo de avós seremos? Eu, que ainda nem mãe sou, tô aqui toda saudosista ... Será que estamos caminhando pra um tempo em que a ternura das avós só será encontrável num sorriso desbotado, estampado num retrato amarelado, tirado lá em vila Longe?