sexta-feira, 18 de abril de 2008

Porque escrever é assim ...

Ah!
Não pode usar qualquer palavra
Então é por isso que não dava
Eu tentava, repetia, achava lindo e colocava
Se não cabe, se não pode
Tem que trocar de palavra

Ah!
Mas é tão boa essa palavra!
Carregada de sentido com um som tão delicado
Agora eu vou ter que trocar?
Ah!
Vá se danar!
Ah! Tem que caber?
Ah! Ninguém repara
Ah! Tem que entender?
Ah! Mas tá na cara
Então muda?!?
Han... han...
Hum
Chiiii
Ai ai ai ai ai ai ai
Han?
Haa tá
Nossa! É isso?!
Hei! Hou!
Ara!
Ah!

(Luiz Tatit)

Procura-se!

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

(Poema em linha reta - Álvaro de Campos)

Professorando

Sem a curiosidade que me move, que me inquieta, que me insere na busca, não aprendo nem ensino.

(Paulo Freire)

domingo, 6 de abril de 2008

Doce melodia

Com a unha suja de barro
Os pés descalços
E um sorriso de lado
Eu vou, se você quiser
Faz tempo que o meu laço de fita se soltou dos cabelos
Viajou pelo ar, ensaiando uma dança
Esperando você chegar perto
Pra poder te abraçar, se enroscar devagar
E se essa coreografia
Te trouxer pra junto de mim
Nossa música vai começar
Com a mão enlaçada na tua e um gesto de corpo
Eu te chamo pra ir ver o mar
E se tiver lua cheia e a maré serenar
No meio da noite, sob um céu estrelado
Eu vou sentir, de novo, o teu ritmo
Pulsando sobre a minha melodia

Um sonho

Eu queria dormir e sonhar
Mas só se fosse um sonho bom
Eu queria acordar e sonhar
Mas só se fosse um sonho de amor

Mais um adeus ...

Passarinho
Gatinho Cetim
O cachorro voltando da carrocinha, na sacola de feira
Honestidade
Trabalho
Punhados de balas
Balanço no quintal
Parque Nabuco
Zoológico
Visita aos tios mais velhos do interior
Comedimento
Honra
Rigidez
Disciplina
Roupa cheia de tinta de parede
Bigode
Ovo de páscoa escondido no Domingo
Natal mais feliz da infância
Fusca caramelo
Dança no quintal
Pinguinha pra abrir o apetite
Bronca
Zanga
Melancia
Abacate
Limoeiro
Tirinhas de cana geladinhas
Nelson Gonçalves
Altemar Dutra
Kojak
Filmes de Bang Bang
Histórias da roça
Aulas de direção
Resgate dos castigos dos pais
Proteção
Família
Amor
Sentido

É tudo isso e mais um monte de coisas inexprimíveis que me fazem guardar pra sempre a lembrança do melhor avô do mundo. Foi você quem, sem ter acesso ao mundo dos livros, um dia, sem saber, me abriu o mundo da poesia, me colocando no colo e cantando assim:

Eu tenho um gatinho
Chamado Cetim
Alegre e mansinho
Que gosta de mim
Bem cedo na cama, vem ele, "miau"
Tanto me chama, que até fica mal
Cetim me obedece
De bom coração
Eu fico com medo
E não tenho razão

Obrigada!