Pois é, cantinho. Hoje vou me comportar como amigo  ingrato. Sabe aquele que, apesar da ingratidão, a gente até fica feliz quando não  aparece, porque isso é sinal de que as coisas vão indo bem? E aí, quando alguma  coisa dá errado, lá vem ele ... chorar as mágoas e decepções no colo benevolente do  amigo pro qual não teve muito tempo, porque estava ocupado demais em ser feliz.  É por isso que eu nunca me ocupo demais com essa brincadeira de ser feliz. Tenho  me ocupado em viver, triste ou feliz, amando as pessoas que me estendem  suas mãos dia após dia, e pra quem eu estendo as minhas até debaixo de  tempestade. Mas, hei de confessar: a dor é muito mais inspiradora que a  alegria. Porque a alegria a gente quer reter, conter, amarrar dentro da gente,  não soltar de jeito nenhum, não dar chance pra ela escapar. Então, nos  encolhemos sobre ela e a protegemos. Mas, nem toda proteção e todo cuidado do  mundo podem mantê-la, como se fosse indelével. A dor, ao contrário, a gente  precisa expelir, expulsar, vomitar, pôr pra fora das nossas vísceras (que é onde  dói mais;  nesse limbo que não se sabe bem localizar). E assim, a gente procura  todos os meios por onde se possa fazer esse expurgo. Chora, grita,  incompreende, escreve. Nessa minha alegria interrompida, fico feliz, pelo  menos, em poder voltar a este canto. Em poder ver as palavras correndo entre os  meus dedos, numa fluidez que há tempos não acontecia. Em pensar que eu cogitei  não voltar mais aqui, eliminar tudo que me lembrasse a alegria que me foi  roubada ... Perdão! Quanta ingratidão a minha! Mais do que poder despejar meu  amargor aqui, só mesmo um consolo indescritível: a amiga que chora comigo a  minha trsiteza, que não se conforma, que sente a revolta que se sente, quando  ferem um irmão da gente. Afinal, uma esperança. A certeza de que alguém  nesse mundo faria o que fosse pra não me ver sofrer. Hoje eu tenho certeza de  que as dores têm gostos. É assim que as distingüimos. De acordo com a  intensidade, nosso paladar percebe sabores mais ou menos amargos, mais ou menos  azedos; todos eles desagradáveis. Esse gosto que está na minha boca, hoje, eu ainda não  havia experimentado. Não sei defini-lo, nem se é o pior que eu já senti. Acho  que é, sim, o mais desconhecido, o mais inesperado. Os outros já me eram  familiares.
sexta-feira, 28 de novembro de 2008
Dissabor
quinta-feira, 6 de novembro de 2008
O melhor lugar é onde estamos nós
Se fosse por mim
Eu ficava
Mas vê como tudo lá fora mudou
O tempo passou
Feito um louco
Quebrando as vidraças
E a gente ficou
Aqui, sem ter nem pra onde ir,
Por medo ou preguiça
Aqui, ilhados por nós
Sequer rastreados por nenhum radar
Aqui parecia ser o melhor lugar
Quem disse que a gente precisa
Perder um ao outro pra se encontrar
Se nada nos prende ao passado
Não é o futuro que vai separar
Enfim
Encosta teu barco em mim
Que o sol já se pôs
A sós
O mundo termina
Na fina fronteira dos nossos lençóis
Em nós
Espalham-se os laços
Desfazem-se os nós
Sonhamos paisagens, compramos passagem
E nunca voamos pra lá
Enfim
Passeia tua boca em mim
Até me calar
Aqui ainda parece o melhor lugar
(Melhor Lugar - Jorge Vercilo)
Eu ficava
Mas vê como tudo lá fora mudou
O tempo passou
Feito um louco
Quebrando as vidraças
E a gente ficou
Aqui, sem ter nem pra onde ir,
Por medo ou preguiça
Aqui, ilhados por nós
Sequer rastreados por nenhum radar
Aqui parecia ser o melhor lugar
Quem disse que a gente precisa
Perder um ao outro pra se encontrar
Se nada nos prende ao passado
Não é o futuro que vai separar
Enfim
Encosta teu barco em mim
Que o sol já se pôs
A sós
O mundo termina
Na fina fronteira dos nossos lençóis
Em nós
Espalham-se os laços
Desfazem-se os nós
Sonhamos paisagens, compramos passagem
E nunca voamos pra lá
Enfim
Passeia tua boca em mim
Até me calar
Aqui ainda parece o melhor lugar
(Melhor Lugar - Jorge Vercilo)
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