quinta-feira, 29 de maio de 2008

Dom de amor

Para T.C.P.S.

Você tem o dom
de pôr som de celo
onde havia gelo
quem dera tê-lo
você e teu dom
de transformar esse silêncio
num solo de celo
quem dera descobrir
teus zelos véu por véu
descobrir talvez um novo céu
e nele vê-lo
entre as estrelas
cobrir você
com meus cabelos
quem dera este celo
não fosse tão solo
quem dera você para sê-lo

(Som de Celo - Alice Ruiz)

Nosso tempo é bom

Saia desta vida de migalhas
Desses homens que te tratam
Como um vento que passou

Caia na realidade, fada
Olha bem na minha cara
Me confessa que gostou
Do meu papo bom
Do meu jeito são
Do meu sarro, do meu som
Dos meus toques pra você mudar

Mulher sem razão
Ouve o teu homem
Ouve o teu coração
No final da tarde
Ouve aquela canção
Que não toca no rádio

Pára de fingir que não repara
Nas verdades que eu te falo
Dá um pouco de atenção

Parta, pegue um avião, reparta
Sonhar só não tá com nada
É uma festa na prisão

Nosso tempo é bom
Temos de montão
Deixa eu te levar então
Pra onde eu sei que a gente vai brilhar

Mulher sem razão
Ouve o teu homem
Ouve o teu coração
Batendo travado
Por ninguém e por nada
Na escuridão do quarto
Na escuridão do quarto

(Mulher sem razão - Adriana Calcanhoto)

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Inexplicando

Por que é que eu gosto de você?
Como é que eu vou dizer?
Como é que eu vou entender?
Como é que eu vou verter?

Se as maneiras me evitam
As palavras não imitam
As idéias não indicam
A música que assovia o coração

O coração?
Esse só responde com brilho
Desde que você chegou é assim:
Melodia escorrendo dos olhos
Alegria enfeitando o meu colo
Sintonia do começo ao fim

Por que é que eu gosto de você?
São cem razões e sem senões
Duzentas vezes o que eu não sei dizer
E uma só vez o que eu não canso de sentir

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Cada vez más de cerca ...

Para T.C.P.S

"Toco tu boca, con un dedo toco el borde de tu boca, voy dibujándola como si saliera de mi mano, como si por primera vez tu boca se entreabriera, y me basta cerrar los ojos para deshacerlo todo y recomenzar, hago nacer cada vez la boca que deseo, la boca que mi mano elige y te dibuja en la cara, una boca elegida entre todas con soberana libertad elegida por mí para dibujarla con mi mano en tu cara, y que por un azar que no busco comprender coincide exactamente con tu boca que sonríe por debajo de la que mi mano te dibuja.

Me miras, de cerca me miras, cada vez más de cerca y entonces jugamos al cíclope, nos miramos cada vez más de cerca y los ojos se agrandan, se acercan entre sí, se superponen y los cíclopes se miran, respirando confundidos, las bocas se encuentran y luchan tibiamente, mordiéndose con los labios, apoyando apenas la lengua en los dientes, jugando en sus recintos donde un aire pesado va y viene con un perfume viejo y un silencio. Entonces mis manos buscan hundirse en tu pelo, acariciar lentamente la profundidad de tu pelo mientras nos besamos como si tuviéramos la boca llena de flores o de peces, de movimientos vivos, de fragancia oscura. Y si nos mordemos el dolor es dulce, y si nos ahogamos en un breve y terrible absorber simultáneo del aliento, esa instantánea muerte es bella. Y hay una sola saliva y un solo sabor a fruta madura, y yo te siento temblar contra mí como una luna en el agua."

(Julio Cortázar, Rayuela - Cap.7)

terça-feira, 6 de maio de 2008

Um lugar pra ficar

Quando cheguei nesse lugar desconhecido, meus pés vibraram ao primeiro contato. Ali, logo na entrada, fui sentindo uma leveza, um não sei quê de poesia, talvez uma alegria. Com a chave menor, você abriu o primeiro portão. Minhas mãos ansiosas, nervosas, desabrocharam. Aliás, depois de aberto o segundo portão, eu vi que havia rosas. E não tinham sido compradas em loja. Estavam plantadas, regadas, sadias. Junto à penúltima porta, eu quase me espanto: estava tudo lustrado, tão ordenado, tudo tão limpo e cheiroso! Tudo pronto para um inesquecível encontro. Cada coisa em seu lugar, cada móvel em seu pedaço, cada luz em seu espaço. Era tanta harmonia que até parecia dia. Sabe dia ensolarado com cheiro de mato? Desses que a gente não quer perder sem amar alguém? Mas já era noite. Estrelada e de lua crescente, decerto. Mais do que os casacos dobrados e os sapatos guardados, susto mesmo me causou seu coração: tão certo, tão decidido, tão sem receios, tão sem rodeios. Lugar luminoso esse seu coração! Amplo, arejado, bem desinfetado e com vista panorâmica para o meu. Não é nem calmo, nem irrequieto, nem simples, nem complexo; é um coração disposto. E, por isso, raro. Não sei o que mais nele encontrei (se é que precisasse), só sei que fui sentindo uma vontade grande de ficar, de conhecê-lo, de aquecê-lo. E você, sem pedir fiador, com esses olhos de riso, tem aberto os caminhos. Defuma os cantos, repõe as telhas e me mostra cada ângulo em que bate sol. E eu, que cheguei só pra dar uma espiadela, resolvi colocar minha rede bem no meio e viver no seu aconchego. Agora, só me resta fazer um pedido, afinal você bem sabe que inquilino novo tem mania de tudo mudar, de tudo ajeitar. Deixa, não, tá?! Seu coração é tão bonito assim! Ah, também não quero as chaves. Porque desse jeito, você terá sempre que abri-lo pra mim.

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Nosso

Estranhamente, este não estava no blog. Que bom que você não acredita em coincidências! Já que gostou tanto, agora é todo SEU.

Para T.C.P.S.

Seu

Arrebate meu coração
Leve-o pra onde quiser
Arremate-o!
Esconda o meu olhar entre os seu pêlos
Minha boca entre os seus anseios
E as minhas mãos ... não precisa, entranhadas estão
Respire meu pensamento
Sorva cada gota da minha sede
Tateie o meu calor
Amplifique a minha voz
Modifique a minha dor
Retire, eleve, transforme
Tudo que ainda restar
Tudo que ainda quiser
Tudo de que, sem escolha, eu dispuser
Não quero nada em troca
Não é uma troca; não tenho escolha
Só não quero me esquecer do seu gosto
Me esquivar do seu cheiro
Nem perder os sentidos
Só não quero ter que lembrar
E não quero, de jeito nenhum,
Que me entregue de volta
É tudo seu
E, só assim, pode continuar a ser meu