segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Imobilizamor

"Se amar, não se mova", eu acabo de ler no blog da Andrea del Fuego. E como essa ideia tem me perseguido! A ideia de que o amor imobiliza. Sei que isso é muitíssimo contestável e vai sempre haver uma legião de amantes dizendo o oposto, assegurando que o amor é mesmo a mola propoulsora da vida. Não sei, mas vejo que pessoas apaixonadas são meio improdutivas, enquanto que o não-amor impulsiona os não amados a correrem atrás do "prejuízo". O desamor, então, já produziu lindos sambas, incontáveis romances, as mais tocantes poesias, filmes, telas, e por aí vai. O desamor é uma inspiração e tanto, principalmente para a indústria farmacêutica. Não estou amargurada, não. Mas já entendi que amor correspondido é inebriante, até esbarrar na incorrespondência entre dois sujeitos tão diferentes. E fico me perguntando por que essa incompatibilidade não produz menos processos de divórcio e mais poesias. Acho que o tema é árido demais pra se encaixar em métrica e rima, enquanto que a desilusão e a solidão já nasceram em versos, embaladas pela nostalgia. O desamor vira música porque não esbarra em roupa suja e toalha molhada. E vira livro porque não precisa pagar contas e mergulhar nas inconveniências da intimidade mais deslavada. Vejo blogs tão abandonados quanto este e corro pra ler a última postagem, invariavelmente falando de um amor consumado. Ligo para amigas que quase não vejo mais e umas me falam de seus maridos, algumas dos filhos e todas de uma apatia que lhes corrói o estômago. Não, não acho que seja sempre assim: apático e ruim. Mas acho que o amor acomoda, sim. Aliás, acomoda e dá muito trabalho, para que o possamos acomodar na rotina, essa senhora pesada, que não tem nada a ver com a mulher sorridente, bem disposta e apta à realização de uma fantasia sexual por dia, da Marie Claire. Não pretendo esticar o assunto, pra não ter que esmiuçar as razões pelas quais todos (ou quase todos) procuramos estar em pares. Só queria entender MESMO por que as angústias solitárias e desamores rendem tanta prosa e poesia, e o conforto modorrento de um bem-sucedido encontro amoroso seca nossas penas. Alguém se arrisca?