sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Instantes

Surpreendo-me por surpreender-me com coisas tão banais. Ontem, depois da chuva, formou-se um tapete de flores amarelas sobre o chão. Parecia um manto dourado, um caminho pra uma paisagem iluminada. Entrei no carro e fui embora. Trânsito, chuva, medo, finalmente em casa. Por isso é preciso parar, um minuto que seja, e contemplar essas brechas de harmonia, momentos de poesia cotidiana. E, se possível , regar a alma e trazê-las pra dentro de nós. Isso daria um haicai, se eu tivesse aprendido a fazer economia.

*

Hoje de manhã, me lembrei de como tudo começou. E sempre que me lembro busco um outro ângulo, porque aconteceu de várias formas diferentes. Enquanto eu olhava pra frente, preocupada com o estreitamento da via, ou com aquela situação de estar tão próxima de um quase desconhecido, você beijou o meu rosto. Assim, sem que fosse um cumprimento, uma despedida ... apenas encostou seus lábios e beijou. Quando eu virei, sem saber o que dizer, timidamente tentando sorrir, você disse: "Obrigado!". Eu ainda quis saber por quê. "Por você estar aqui. É bom conhecer as pessoas". Eu ainda demorei a entender. Ainda bem que os seus sentidos foram mais longe. É bom conhecer pessoas. É bom o amor acontecer.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Filosofia leguminosa

Hoje pela manhã, o Sr. Raji ensinava como se deve escolher berinjelas: "elas precisam estar leves, brilhantes e macias". Fiquei pensando que tudo na vida deveria ser escolhido baseado nesses critérios. Taí: a vida precisa ser como a melhor das berinjelas.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Mais um dia frio

Hoje eu queria tirar férias de mim. Das minhas preocupações, minhas inseguranças, minhas vontades que não podem ser realizadas e até desse meu corpo que anda cansado de correr de lá pra cá, de cá pra lá, sem espaço pra uma horinha de vazio. Queria ser dona do meu tempo, sem me sentir culpada por não querer trabalhar, estudar, pensar, analisar. Queria ler poesia de Guimarães Rosa, contos de Mia Couto, abraçada por uma rede ensolarada. Não pensar em relógio, celular, em não chegar atrasada no trabalho, ou chegar rápido em casa pra poder dormir meia hora a mais. Não ter que falar com os amigos entre um farol fechado e outro, ou enquanto corro pela avenida, antes de engolir o almoço. Queria diminuir distâncias pra poder passar uma quinta-feira inteira nos braços do meu amor. Sem msn, SMS, DDD e todas essas siglas que teimam em me lembrar que eu não vou me curar da ressaca deste inverno na sede dos seus beijos. Queria comer fruta madura, perfumada, com polpa macia e casca colorida. Sentir cheirinho de neném e aliviar meus ouvidos com a música risonha de quem ainda não deu os primeiros passos.

E, por fim, deitar no colo da minha avó, ouvir aquela voz enrolada, acarinhar aquela pele tão pedinte de afagos. Mas aí, são saudades irremediáveis, dos amores insuficientes da nossa alma. Saudade que só se pode deixar doer, doer, doer, fundo, porque nunca vai cessar.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Plena e simplesmente

Para T.C.P.S.

Sou sua luz
Sou sua cruz
Sou sua flor
Sou sua jura
Sou sua cura
Pro mal do amor
Sou sua meia
Sou sua sereia
Cheia de sol
Sou sua lua
Sua carne crua
Sobre o lençol
Sou sua Amélia
Sou sua Ofélia
Sou sua foz
Sou sua fonte
Sou sua ponte
pro além de nós
Sou sua chita
Sua criptonita
Sou sua Lois
Sou sua jóia
Sou sua nóia
Sua outra voz
Sou sua
Sou sua
Sou sua
Plenamente
Simplesmente

(Sou sua - Adriana Calcanhoto)

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Trilha para uma manhã quase ensolarada

Bom dia, tristeza
Que tarde, tristeza
Você veio hoje me ver
Já estava ficando
Até meio triste
De estar tanto tempo
Longe de você

Se chegue, tristeza
Se sente comigo
Aqui, nesta mesa de bar
Beba do meu copo
Me dê o seu ombro
Que é para eu chorar
Chorar de tristeza
Tristeza de amar

(Bom dia, tristeza - Vinícius e Adoniran)